por Paulo Rogério Vieira*
As Olimpíadas ainda não terminaram, mas o Brasil já é destaque em várias modalidades e não apenas em esportes tradicionais como futebol e vôlei, mas também em modalidades menos convencionais para o público brasileiro, como o skate e o surfe. Com 15 medalhas, o país se aproxima ainda mais do seu recorde em Tóquio: 21 pódios em 2021.
As atletas têm sido o grande trunfo e mostrando a potência feminina que há no país, comprovada através do quadro de medalhas. Com a classificação da seleção feminina de futebol para a final contra os Estados Unidos garante o percentual de 71% em medalhas conquistadas pelas brasileiras.
Além de alcançarem o pódio, recordes foram quebrados: Rayssa Leal, skatista de apenas 16 anos, quebrou um recorde que durava 92 anos: o de atleta mais jovem na história a conseguir medalhas de forma consecutiva na competição, entre homens e mulheres. A marca pertencia a estadunidense Dorothy Poynton-Hill, que foi medalha de prata em 1928, em Amsterdã, e medalha de ouro em 1932, em Los Angeles, com apenas 17 anos no salto ornamental.Rebeca Andrade, atleta da ginástica artística, se tornou a brasileira com o maior número de medalhas na história das Olimpíadas (ouro, prata e bronze), superando os três pódios de Hélia de Souza, a Fofão, do vôlei (um ouro e dois bronzes) e Mayra Aguiar, do judô (três bronzes).
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O que esses números e recordes nos mostram? E se comparado com outros países? Por que ainda o país do futebol não é uma potência olímpica? Como é o investimento no esporte no Brasil além do alto rendimento?
Nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo, histórias de superação são frequentemente destacadas na mídia, mostrando atletas que, apesar das dificuldades, conquistam o tão sonhado lugar no pódio. No entanto, a celebração pelas medalhas conquistadas contribui para a falsa ideia de que a fórmula esforço mais dedicação é sempre certeira e não uma exceção. Isso gera a impressão de que tudo depende do esforço individual, ofuscando o cenário de desigualdade em que o país vive. E as políticas públicas, onde entram nisso?
As leis que garantem verbas para o setor esportivo estão diretamente relacionadas aos esportes de alto rendimento, como o Bolsa-Atleta, Plano Brasil Medalhas e Lei de Incentivo ao Esporte. Há poucos programas que destinam verbas às categorias de base ou ao esporte escolar. Isso reflete uma cultura que não entende o esporte como prioritário no contexto educacional. É necessário, além das verbas contidas em programas específicos, priorizar o esporte desde a infância como uma política pública para formar gerações de atletas e tornar as delegações competitivas frente a outros países. Como fazer isso? Inserindo o esporte na rotina dos brasileiros de forma consistente e ampla.
Uma das poucas seguranças que oferecemos às crianças e jovens brasileiros, ainda que de forma limitada, é o acesso à educação. Portanto, parece quase óbvio que o esporte deve estar inserido neste contexto. O esporte deve ser uma matéria regular e com carga horária significativa. Atualmente, isso não acontece. Não é preciso lembrar os diversos benefícios dos esportes para quem os pratica, como um corpo saudável, melhora na concentração e na capacidade de raciocínio, entre muitos outros que são claramente observados, além da performance escolar.
Portanto, o que se percebe no Brasil é uma falta de valorização do esporte como um agente essencial no processo educacional, que, na pior das hipóteses, renderá gerações de melhores estudantes de forma geral, com a vantagem de poder desenvolver novos atletas de nível mundial.
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* Paulo Rogério Vieira é coordenador do programa de Esportes & Cultura do Colégio Albert Sabin