Na última quinta-feira (25), a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou, em caráter terminativo e por unanimidade, a inscrição do educador Paulo Freire no Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria.
A proposta de reconhecimento ao patrono da Educação do Brasil é de autoria da hoje governadora do Rio Grande do Norte, a professora Fátima Bezerra (PT) e sua aprovação em caráter terminativo significa que a matéria não precisará ir ao Plenário, seguindo direto para a Câmara dos Deputados, salvo algum recurso em contrário.
Reconhecer Paulo Freire como um herói da Pátria Brasileira é uma bela maneira de encerrar o ano de homenagens ao centenário de nascimento do pensador que colocou nosso País no mapa mundial da Pedagogia, da reflexão sobre a importância da Educação e abriu os caminhos para torná-la inclusiva, libertadora e transformadora.
Nesses dias sombrios, é reconfortante lembrar que esse Brasil açoitado pela tristeza é capaz de parir gigantes como Paulo Freire, reconhecido no planeta inteiro por sua formulação teórica e sua prática na arte do ensino.
Detentor de 35 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por prestigiadas instituições mundo afora, autor da “Pedagogia do Oprimido” — terceiro livro mais citado em trabalhos acadêmicos sobre ciências sociais em todo o planeta — formulador de uma pedagogia adotada em inúmeros países, Paulo Freire tinha fé no Brasil. Sua grandeza maior foi confiar na nossa gente — na inventividade, na inteligência, na capacidade de compreender e transformar para melhor o seu entorno, ainda que sem a mediação do “conhecimento oficial”.
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Paulo Freire é uma revolução exatamente por reconhecer que o camponês iletrado era capaz de muitas leituras: de ler a terra, o céu e o vento.
PublicidadeO grande ensinamento desse gigante é que não existe “O Saber”, mas Os Saberes. E a Educação precisa da promoção de um ensino e de um aprendizado atentos ao conjunto de referências que cada um já carrega consigo.
Como potiguar, tenho grande orgulho de lembrar que a revolução de Paulo Freire começou no Rio Grande do Norte, nas 40 horas de Angicos, uma experiência de alfabetização de adultos naquela pequena cidade, a 180 km de Natal.
Nosso panteão de heróis e heroínas da Pátria reconhece e preserva a memória de 59 personagens fundamentais na construção do País que somos hoje. Lá estão comandantes de batalhas, como Tamandaré e Caxias, combatentes pela liberdade, como Tiradentes, Zumbi, Maria Quitéria e Zuzu Angel e líderes políticos excepcionais, como Arraes, Brizola e Getúlio. Lá também estão gênios como o compositor Villa-Lobos e Santos Dumont.
Mas entre esse 59 nomes, está apenas o de um educador, o jesuíta Anchieta, que cruzou o Atlântico para ensinar uma fé e um saber a povos que já sabiam ler seu território e falavam diretamente às forças da natureza.
O reconhecimento de Paulo Freire como herói do Brasil é muito mais do que levar um educador para fazer companhia ao solitário Anchieta. É abraçar a ideia de que a construção da brasilidade exige que nosso País se olhe no espelho e goste do que vê.
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