Irlã Andrade Gomes*
Com pouco mais de um ano e seis meses, o governo Bolsonaro acumula uma sucessão de problemas. Eleito com a promessa de, dentre outras, combater a imoralidade e resgatar a boa imagem do Brasil, as posturas do mandatário e os fatos ligados à sua gestão estão em rotas de colisão com o que foi prometido em campanha e ainda põem a democracia em risco.
Em 2018, durante a gestão do presidente Michel Temer, ganhou musculatura o clamor de uma parcela expressiva de brasileiros em favor da eleição de Bolsonaro. À época, o pré-candidato alinhou o seu discurso às demandas reivindicadas nos protestos de rua que imploravam pela moralidade na política, fim da corrupção, defesa da democracia, entre outras pautas cruciais. Com a vitória no pleito eleitoral, a população e o mercado nutriram a esperança de que o novo presidente atenderia a essas reivindicações e inauguraria um período político pautado na boa conduta governamental e no respeito às instituições democráticas.
Todavia, até o momento, as posturas assumidas pelo chefe do executivo estão longe desses compromissos. Vários fatos exemplificam isso. Vejamos alguns. Em abril, diversos órgãos noticiosos denunciaram que o mandatário teve estranhamente a intenção de trocar o diretor-geral da Polícia Federal pelo diretor-geral da Abin, contrariando a PF. No mesmo mês, a organização “Repórteres Sem Fronteiras” apontou que o presidente da República desferiu 32 ataques verbais ou ofensas à imprensa nos três primeiros meses de 2020. Segundo dados publicados pelo site O Globo, o governo federal distribuiu vários cargos aos partidos do “Centrão”, reforçando a velha política do “toma lá dá cá”, prática que Bolsonaro prometeu abolir em sua gestão. Em julho, o Facebook informou que excluiu 73 contas falsas e 14 páginas que seriam ligadas a assessores do presidente Bolsonaro e de seus filhos, as quais espalhavam fake news e atacavam o STF e opositores.
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Diante dos fatos mencionados, vê-se que a atual gestão federal está contaminada por práticas imorais, entrando num ambiente sombrio, rumo ao colapso. Onde está a tal da “nova política” que Bolsonaro tanto prometeu durante a campanha? Não há indício dela em seu governo. O que se têm são ataques às instituições democráticas, realidade que contribui para macular a imagem do Brasil. Foi por isso que, percebendo a democracia em xeque, a OAB acelerou os trâmites para a elaboração do pedido de impeachment contra Bolsonaro. Até o mercado financeiro, que num primeiro momento ficou otimista com a sua eleição, agora está tenso ao ver um cenário nebuloso por conta das ações irresponsáveis do gestor federal.
A percepção do mercado sobre o governo piorou em virtude do desprezo de Bolsonaro às recomendações científicas relacionadas ao coronavírus e às constantes saídas de ministros. Por isso, os investidores avaliam que o país está sendo administrado por um chefe de Estado que quer impor as suas convicções, sem fundamento científico e em “completa desgovernança”. Além disso, a falta de um plano nacional que contemple a economia de “baixo carbono” e ambientalmente saudável e o constante desmatamento da Amazônia brasileira são fatos que criam um cenário de insegurança para os investidores externos, aumentando o Risco-Brasil e, por conseguinte, geram impactos negativos na economia, bem como na imagem do país.
Portanto, é notório que a imagem do Brasil vem sendo erodida em razão de posturas lamentáveis do presidente, manchada por atitudes imorais e em desacordo com o seu discurso de campanha. Se o Brasil quer trilhar rumo ao desenvolvimento socioeconômico, urge que se criem “pontes” de relacionamentos, e não “muros” da intolerância. É crucial respeitar os verdadeiros anseios da nação e dar robustez à democracia, e não desidratá-la.
*Irlã Andrade Gomes é jornalista, cientista social, mercadólogo e possui MBA em Comunicação Corporativa