*Leandra Felipe
E agora? A pergunta vem da resposta mundial à Pandemia do Covid-19, que expõe nossas debilidades, fragilidades, incoerências e, essencialmente, nossas desigualdades. Há motivos para se preocupar, se entristecer, e estar ansioso. Mas por outro lado, há uma chance de reflexão individual e coletiva, que poderá fazer diferença nos dias incertos que virão. Que bandeira iremos levantar? É tempo de deixar a polaridade, paixões ideológicas, reações infantis e pensar coletivamente.
São vários os motivos que irão exigir de nós, paciência, resiliência, criatividade e mudança de atitude. A começar pelo abismo social que irá se acentuar. A crise mundial dá sinais diários nos mercados financeiros.
O cenário piora quando olhamos para a realidade de trabalhadores assalariados e informais no Brasil, e aqui nos Estados Unidos para quem recebe salário baseado em horas trabalhadas, os chamados “hourly workers”.
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PublicidadeEm janeiro o país registrou índice de desemprego de 3,6%. Contudo, o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, advertiu que o desemprego nos Estados Unidos pode chegar a 20% em consequência das medidas da pandemia.
A geração de renda e trabalho será comprometida. Escolas fechadas, empresas com trabalho remoto por tempo indeterminado, eventos cancelados, restaurantes e hotéis com baixíssimo movimento ou fechados. Companhias áreas sem operar. Todos os setores produtivos e de serviço vão sentir os efeitos.
Em Seattle, estado de Washington, um dos primeiros a adotar medidas rigorosas, pequenos comerciantes já falam em perdas de 90%. Um mês fechado, poderia ser suficiente para fazer um pequeno café ou restaurante local ter de fechar as portas.
A maioria daqueles que trabalha no universo corporativo, grandes companhias, área de negócios, e funcionários públicos conseguirão com adaptações continuar trabalhando remotamente. Desta forma, esta parcela da sociedade conseguirá seguir a orientação de “distância social”, tão importante para evitar que a contaminação rápida ultrapasse a capacidade dos hospitais.
Nestes primeiros dias, aqueles que podem trabalhar remotamente, já começam essa rotina, apreensivos, mas confortáveis. As crianças aqui no país, mesmo as de escolas públicas, começam a ter aulas online por um tempo.
Mas nessa escola pública já se veem as diferenças. Algumas crianças precisam das refeições na escola, porque a comida oferecida nos dias letivos, café da manhã e almoço, faz diferença no orçamento dos pais,
Imagine, pai ou mãe, assalariados que trabalham em um restaurante que fecha as portas. Ficaram sem salário por um tempo. Se for um cidadão americano ou residente legal, poderá receber ajuda, uma espécie de seguro. Mas isso não corresponde ao salário integral recebido. Se for um indocumentado, não terá o mesmo benefício.
Sem falar ainda das crianças pequenas que dependem de creches pagas, também fechadas. Das universidades fechadas com estudantes que trabalham em serviços para pagar a mensalidade.
E a segurança alimentar? Quem tem um salário mensal fixo ou dinheiro guardado, pode ir correndo encher a dispensa. Mas e o trabalhador por hora, assalariado? Como irão comprar comida aqueles que recebem diariamente ou semanalmente.
Essa pandemia nos impõe o isolamento, e coloca bem diante dos nossos olhos os nossos abismos sociais em proporções diferentes, mas presentes aqui nos Estados Unidos e no Brasil.
É o que vamos fazer? Aqueles que tem acesso a internet de qualidade, que estão seguros trabalhando remotamente, comerão a reserva da quarentena, acompanhando as notícias?
O que faremos? Continuaremos assistindo ou iremos ajudar? Vamos continuar usando nosso tempo nas redes sociais para criticar nossos “inimigos ideológicos”, ou vamos buscar fazer alguma coisa? Vamos trocar a passeata, e o panelaço pela mobilização nas redes sociais.
Você pode usar seu WhatsApp, seu Telegram, Instagram, Facebook, e tudo o que você usa socialmente para estar conectado e opinar sobre tudo, para levantar cestas básicas para as comunidades locais, pode pegar da sua reserva de papel higiênico e doar. O que você vai fazer? °Isso daí° vai exigir de nós um olhar coletivo e altruísmo.
*Jornalista, correspondente e escritora
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