Thomas Law* e Armando Luiz Rovai**
As cidades inteligentes ou “Smart Cities” são um caminho sem volta – a tecnologia irá transformar não apenas nosso cotidiano enquanto indivíduos, mas a maneira como vivemos e interagimos dentro dos espaços urbanos. No caso das metrópoles é uma necessidade, já que o uso da tecnologia terá impacto direto na solução de problemas urbanos como segurança pública, gestão de tráfego, mobilidade urbana, entre outros aspectos que impactam na qualidade de vida da população.
Mas antes de termos nossas Smart Cities mudando nossas vidas, temos um longo caminho para trilhar do ponto de vista logístico, estrutural e de mão de obra e qualificação profissional. Isso porque, para termos a tecnologia monitorando e sendo usada na solução de problemas das milhões de pessoas que saem todos os dias às ruas numa cidade como São Paulo, é preciso infraestrutura adequada para captar dados, filtrar, categorizar, implementar as soluções e, efetivamente, impactar positivamente a vida das pessoas.
Isso traz um desafio enorme do ponto de vista de pessoas: precisaremos de trabalhadores qualificados para atender a demanda – do trabalho mais braçal, como a manutenção de antenas, redes e cabeamento ao especialista em inteligência artificial, redes neurais, desenvolvimento de apps, entre outras demandas.
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Para se ter ideia do tamanho do problema: segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), para suprir a mão de obra necessária em TI em 2024, seriam necessários que, todos os anos, 70 mil novos profissionais da área entrassem no mercado. O volume anual é de 46 mil entrantes; ou seja, há um déficit de 24 mil vagas por ano. Para piorar, com a normalização do home office, empresas multinacionais passaram a contratar trabalhadores remotos e, cada vez mais, temos profissionais da área morando no Brasil e ganhando em dólares ou euros, tornando ainda mais escassas as possibilidades de contratação na área para empresas e startups brasileiras.
Olhando assim, podemos entender que o cenário atual é trágico. Contudo, podemos tentar olhar para o copo meio cheio. Se temos hoje um semi-apagão de mão de obra especializada em tecnologia, também existe um contingente de 12 milhões de brasileiros desempregados. Por isso, entendo que o caminho natural para que possamos implementar o conceito de cidades inteligentes nas metrópoles brasileiras passa pela qualificação desses profissionais que hoje estão ociosos. Temos que ter programas de capacitação e aperfeiçoamento da população focados em formar mão de obra especializada para que possamos ter a tecnologia fazendo parte do cotidiano das cidades brasileiras. Obviamente, também existe um grande desafio de qualidade da qualificação, dado que investimos poucos em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, a formação STEM, tão necessária quando pensamos na área de tecnologia. Porém, nunca é tarde para começar.
Essa transformação, obviamente, passa pela necessidade do poder público se unir à iniciativa privada para promover programas de formação e capacitação de profissionais de tecnologia. Assim, iniciaremos um ciclo positivo de desenvolvimento não apenas tecnológico, mas também de geração de emprego e renda.
Com esse olhar, podemos afirmar que estamos avançando. Está tramitando no Congresso Nacional o projeto de lei nº 976/2021, que institui a Política Nacional de Cidades Inteligentes. O texto abrange uma série de objetivos, como: estímulo financeiro por meio de um fundo específico para os municípios implantarem ações de smarts cities e investimento em qualificação. O intuito é oferecer capacitação aos professores e alunos, com uma visão voltada para inovação e tecnologia, além de ampliar a oferta de ferramentas digitais.
Isso é fundamental para que possamos retomar nosso ciclo de crescimento enquanto país e é uma necessidade para termos a tecnologia resolvendo os problemas cotidianos da população. E, além de tudo, também podemos impactar diretamente o nível de desemprego no país, aumentar a produtividade média do Brasil e colocar o país num ciclo positivo de crescimento econômico.
*Thomas Law é advogado, doutor em Direito, é presidente do Instituto Sociocultural Brasil China (Ibrachina) e do hub de inovação Ibrawork.
**Armando Luiz Rovai é advogado, mestre em DIreito, professor Direito Comercial na PUC/SP e Direito Comercial no Mackenzie
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