Vanessa Grazziotin*
É gravíssima a situação do Amazonas!
A cada dia um novo recorde, é assustador o crescimento do número de pessoas infectadas e que vão a óbito em Manaus e no interior. Num estado onde os municípios são distantes, de difícil acesso e não dispõem de UTI.
> Cadastre-se e acesse de graça, por 30 dias, o melhor conteúdo político premium do país
Dados de 06 de maio indicam 751 mortes e 9.243 infectados, com uma taxa de letalidade de 8,20%. Dos casos, Manaus responde a 59% e o interior a 41%. O vírus já alcançou 53 dos 62 municípios, alguns deles com grande população indígena – extremamente sensível a infecção viral – como é o caso de Parintins, Maués, Santo Antônio do Içá, Tabatinga, Autazes, Presidente Figueiredo, São Paulo de Olivença, Benjamin Constant, Tonantins, Amaturá, São Gabriel da Cachoeira, Barreirinha, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Jutaí, Boa Vista do Ramos, Eirunepé, Nhamundá e Atalaia do Norte, no vale do Javari, onde ainda residem tribos isoladas.
Leia também
A subnotificação, de tão alarmante, chega a ser um atentado contra a vida. Segundo dados divulgados pela prefeitura de Manaus, somente no dia 1º de maio – dia do trabalhador, morreram 151 pessoas – a média diária é de aproximadamente 40 – e oficialmente só 12 foram atestados por covid-19. A grande maioria registrada como “insuficiência respiratória ou causa desconhecida”.
Pessoas estão morrendo em suas casas, por absoluta incapacidade do estado atendê-las adequadamente. A população não tem acesso a testes, nem mesmo quando tem contato direto com vítimas do coronavírus.
Enquanto o vírus avança, governo e parlamento insistem em trilhar por caminho oposto ao indicado pelas autoridades sanitárias. Não há isolamento social e as autoridades, estadual e municipal, inexplicavelmente resistem ao lockdown. As pessoas continuam nas ruas, estimuladas pelas bravatas irresponsáveis do presidente; e governador e prefeito da capital permanecem passivos! Apesar de falarem da necessidade do isolamento social, na prática nenhuma ação. No mínimo deveriam fazer campanhas ostensivas ou seguir o exemplo do Maranhão, onde o governador Flávio Dino (PCdoB), tem determinado medidas duríssimas contra o desrespeito às regras de isolamento, implementando inclusive o lockdown.
Para piorar a situação, a Assembleia Legislativa, por ampla maioria, no último dia 6, inacreditavelmente, aprovou lei permitindo a reabertura de igrejas e templos, e o judiciário negou a decretação de lockdown solicitado pelo Ministério Público.
Apesar dos sucessivos recordes de casos e mortes, gente sem escrúpulos, verdadeiros criminosos, espalham vídeos e notícias falsas de que caixões estariam sendo enterrados vazios em Manaus, procurando relativizar a tragédia. Não consigo imaginar qual é o objetivo dessas pessoas que não percebem estarem prejudicando a si próprios! Por quê? Para quê? Para favorecer os ricos e poderosos que dependem do trabalho da maioria do povo para garantir seus vultuosos lucros?
Detentos da penitenciária do Puraquequara, reclamando das péssimas condições sanitárias promoveram uma rebelião, levando dezenas de mulheres, sim mulheres na grande maioria, a se aglomerarem na porta do presídio clamando, orando e cantando por seus filhos, maridos, companheiros.
E, mesmo diante dessa tragédia a disputa política se acirra, e, como sempre, no mais baixo nível, com acusações mútuas nos meios de comunicação por eles controlados. E o presidente da Assembleia Legislativa acatou um pedido de impeachment contra o governador e o vice Carlos Almeida simultaneamente, sinalizando mais tensão num ambiente já excessivamente tencionado.
Nossa situação portanto não é apenas lamentável, é dramática, desesperadora.
Diante da falta de médicos, poderíamos agora, lembrar da dura oposição feita pelas entidades médicas, à época da votação do programa Mais Médicos (que Bolsonaro acabou); falar, também, do choro do prefeito de Manaus e lembrar de seu empenho, enquanto senador, em 2007, para acabar com a CPMF (criada pelo seu próprio PSDB) – que afetaria apenas os ricos – e cujos recursos seriam investidos exclusivamente na saúde, no SUS. Seu objetivo era tão somente inviabilizar o governo Lula.
Não! Podemos até lembrar desses e de tantos outros atos que concorreram para agravar ainda mais as deficiências do sistema de saúde, mas não vamos falar sobre isso agora.
Agora é hora de falar de vidas, é hora de salvar vidas! De agir, com agilidade, competência e ética, na busca de soluções.
No Amazonas precisamos de muita coisa, de quase tudo: hospitais, equipamentos, insumos, profissionais de saúde, transporte e ajuda financeira para todos os que precisam, como os desempregados, autônomos, pequenos e médios empresários. Mas precisamos, especialmente, de gestão eficiente e responsável.
O mais urgente agora é o isolamento social e a testagem em grandes quantidades para tentar evitar uma tragédia ainda maior. Infelizmente, nem o presidente Bolsonaro, nem o governador Wilson Lima (PSC) tem se dedicado sinceramente e de forma competente para enfrentar a situação e salvar vidas!!
Mas, apesar deles, seguimos e seguiremos enfrentando, lutando e resistindo porque somos um povo valente, de coragem!
Se, por um lado, as perdas nos trazem tristeza e sofrimento, também nos possibilita analisar a realidade desnuda das aparências, o que permitirá que o povo, diante dessa realidade nua e crua, possa escolher o melhor caminho, determinar o seu próprio futuro.
Que sigamos todos com muita força e fé. E o que o nosso trágico exemplo sirva de alerta para o Brasil e o mundo daquilo que não deve ser feito.
*Vanessa Grazziotin, ex-vereadora de Manaus e ex-senadora. Compõe a Direção Nacional do PCdoB
Deixe um comentário