José Augusto Morelli*
O avanço acelerado do desmatamento e da degradação ambiental na Amazônia tem ocupado generosos espaços na mídia nacional e internacional, refletindo uma crescente preocupação, aqui em seu sentido literal e original – ocupar-se antecipadamente com determinado assunto – dadas as dimensões amazônicas dos seus efeitos nas mudanças climáticas que se avizinham.
O marco civilizatório inaugurado pelo Clube de Roma avança com a mesma intensidade com que avança a ciência, atropelando ideologias e lançando no lixo da história aqueles que se contrapõem às evidências.
A tese tacanha de que a questão ambiental é uma pauta de esquerda financiada por organismos internacionais contrários ao interesse da nação, foi catapultada ao panteão das bizarrices, fazendo companhia ao terraplanismo e ao globalismo marxista com as recentes manifestações, duríssimas por sinal, dos principais agentes econômicos do mundo capitalista civilizado. E, surpresa das surpresas, ganhou a adesão do empresariado nacional, incomodado com a pressão que vem de fora.
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Nesse contexto, a panaceia já em frangalhos do “chamem as Forças Armadas” mostrou-se inócua e absurdamente dispendiosa, diante dos pífios resultados apresentados até agora e confirmados pela recente declaração do chefe do Conselho Nacional da Amazônia de que os números do desmatamento continuarão a crescer em 2020.
PublicidadeForam nos filmes de guerra e livros militares que todos nós tomamos conhecimento dos termos estratégia, planejamento, tática, logística, operações e outros quando estes ainda não faziam parte dos manuais corporativos modernos. É natural portanto, que tais termos e conceitos sejam bastante familiares e especialmente caros aos militares, porque decorrem de séculos de aprendizado na base do sangue, suor e lágrimas vertidos nas inúmeras guerras perpetradas pela humanidade.
No entanto, aqui não é o que se constata na prática. Abandonando os manuais militares e negando a própria ciência militar, não há um plano, uma estratégia com a envergadura que o caso requer. Quando muito uma tática equivocada. Errática. E a despeito da iniciativa ter sido inaugurada em 2019 com a primeira GLO, até agora só foram apresentados planos rascunhados, cujo teor é um apanhado de medidas desconexas, copiadas de planos já existentes e cuja execução demandaria muito mais que soldados.
Lançadas na aventura da selva pela GLO que permitiu o seu uso na Operação Verde Brasil 2, as Forças Armadas comandadas pelo vice- presidente Mourão perambulam por estradas e rios amazônicos sem saber ao certo quem é o inimigo, com desconhecimento do território, sem logística adequada e sem dados de inteligência capazes de orientar e direcionar seus esforços. Para tornar mais patética a atuação lhes falta conhecimento teórico e prático da legislação ambiental, sobre a dinâmica do desmatamento, sobre as conexões perigosas do garimpo ilegal e dos meandros da grilagem de terras públicas. Não é seu “métier”. Não foram treinados para isso.
A par disso, o IBAMA, com vasta expertise no assunto, mas no limbo das decisões, é lançado em campo em posição subalterna, com seus escassos e preciosos recursos sendo drenados por operações inócuas e preterido na divisão do bolo orçamentário, cabendo-lhe tão somente um décimo dos recursos destinados ao Ministério da Defesa para a empreitada.
Os investidores internacionais, fundos globais de investimento, representantes do verdadeiro agronegócio e outros setores da economia e sociedade brasileira não tem tempo e nem se interessam por planos vagos apresentados em videoconferências. Querem resultados e é para já.
Mas sem um plano não vai.
*José Augusto Morelli é analista ambiental do IBAMA.