Por Pedro Sales
A direita brasileira dominou as menções à disputa eleitoral na Venezuela nas redes sociais. É o que revela monitoramento de 4,6 mil perfis de autoridades brasileiras feito pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad), entre o primeiro minuto da sexta-feira (26) e as 23h59 da segunda (29). De acordo com o levantamento, 55% das mais de 300 figuras políticas que se manifestaram sobre o assunto são da direita. A maior bancada da Câmara dos Deputados, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi o partido com mais manifestações sobre as eleições venezuelanas. Conforme os dados da pesquisa, 46% das autoridades que se pronunciaram sobre o pleito são filiadas ao partido.
Em relação aos maiores números de postagens sobre o tema, os recordistas foram dois deputados e um senador, todos de direita. O deputado Osmar Terra (MDB-RS) postou 53 vezes sobre as eleições na Venezuela, segundo o Ibpad. O deputado Messias Donato (Republicanos-ES), 44 vezes, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teve 40 publicações sobre o tema.
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A pesquisa também mostra o silêncio de autoridades de esquerda. Conforme o levantamento, apenas 25 autoridades de esquerda e de centro-esquerda se manifestaram sobre a eleição venezuelana. Autoridades do Executivo federal, ministros de Estado e o presidente Lula não publicaram sobre o assunto durante o período monitorado. Segundo o Ibpad, a maior parte das manifestações de autoridades de esquerda se deu na segunda-feira, um dia após a votação: foram 52 das 70 publicações feitas por políticos com esse perfil ideológico.
Para a gerente de insights do Autoridades Brasil, do grupo Ibpad, Letícia Medeiros, o monitoramento permite “observar como as autoridades estão se comportando em relação a temas quentes”. Na avaliação dela, a principal constatação foi a discrepância da quantidade de publicações por espectro político. “As autoridades de esquerda e centro esquerda não estão participando do debate. Nosso papel, nesses momentos, é mostrar a fotografia do assunto durante o período analisado. Acredito que essa análise demonstra de forma objetiva o efeito do silêncio da alta cúpula do governo na base de autoridades de esquerda e centro esquerda”, diz Letícia Medeiros.
O governo brasileiro ainda não se posicionou sobre oficialmente sobre o assunto. Diferente de outros governos aliados de Maduro, como China e Rússia, o Brasil não reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro até o momento. O presidente venezuelano, no poder desde 2013, já foi diplomado pelo Conselho Nacional Eleitoral do país para novo mandato a partir de janeiro de 2025. Sua vitória, no entanto, é contestada pela oposição e por observadores internacionais e países como Chile, Argentina, Uruguai e Estados Unidos. Eles alegam que houve fraude na votação. Maduro determinou a expulsão de embaixadores de sete países que não reconheceram sua reeleição.
De acordo com o Conselho Eleitoral, o atual presidente recebeu 51,2% dos votos, enquanto Edmundo González, principal candidato da oposição, obteve 44%. A oposição, no entanto, sustenta que González recebeu 70% dos votos.
Desde ontem a Venezuela é palco de protestos de opositores de Maduro. O presidente Lula se manifestou pela primeira vez sobre o assunto nesta terça, em entrevista à TV afiliada da Rede Globo em Mato Grosso. Segundo ele, não houve “nada de grave” na eleição venezuelana. “Tem uma briga, como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se ata tiver dúvida entre oposição e situação, oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. Aí vai ter a decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, declarou.
Enviado a Caracas na segunda-feira, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou que o Brasil só reconhecerá a reeleição de Maduro após a divulgação dos boletins eleitorais. Maduro alega que um ataque hacker atrasou a divulgação desses dados. Mesmo assim, a Executiva Nacional do PT divulgou nota em que cumprimenta o presidente venezuelano pela reeleição. “O PT saúda o povo venezuelano pelo processo eleitoral ocorrido no domingo, dia 28 de julho de 2024, em uma jornada pacífica, democrática e soberana. Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolas Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela”, diz trecho do texto.