Por Jean Paul Prates*
Foi preciso armar um golpe para que os bolsonaristas mantivessem, respirando por aparelhos, a proposta de readoção do voto impresso, que tramita na Câmara dos Deputados.
Na última sexta-feira (16), em meio ao tumulto e encenação, os apoiadores de Bolsonaro na Comissão Especial que analisa a proposta conseguiram impedir que a matéria fosse rejeitada pela maioria do colegiado, assegurando alguma sobrevida a essa peça de saudosismo político concebida em nome do ilusionismo barato que caracteriza a narrativa bolsonarista.
O sepultamento ficou para depois do recesso, mas não vai tardar.
A Proposta de Emenda à Constituição 135/2019 quer criar um mecanismo no mínimo curioso: após a votação eletrônica, uma cédula passaria a ser impressa, confirmando a opção do eleitor. O papel seria depositado, a seguir, em outra urna, supostamente para permitir a “auditoria” de uma eleição.
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Faz um quarto de século que o Brasil utiliza as urnas eletrônicas, sem que jamais tenha sido comprovada qualquer fraude.
PublicidadePelo contrário: o mundo olha com respeito a capacidade de nosso País de colocar à disposição do eleitorado um processo ágil, seguro e moderno para que os cidadãos e cidadãs escolham seus representantes.
A que serve, portanto, essa campanha de descrédito em um processo que já mais do que testado e aprovado — e por meio do qual, não esqueçamos, foram eleitos os seus detratores que hoje ocupam postos no executivo e no Legislativo?
A resposta é clara: é completamente improvável que um raio caia duas vezes no mesmo lugar. O bolsonarismo sabe disso.
A maré de ressentimentos e irracionalidade de 2018, que permitiu a eleição de tanta gente truculenta e antidemocrática para o Legislativo e para a Presidência dificilmente vai se repetir.
Ainda mais quando tantos dos iludidos sentem na pele os efeitos devastadores que resultam da aposta no ódio. O projeto alicerçado na sociopatia não cuida sequer de seus entusiastas, largados à própria sorte em meio a uma pandemia mortal e a um derretimento econômico sem precedentes.
É preciso, portanto, criar desde já uma narrativa para o discurso que virá, imediatamente após a derrota eleitoral mais do que anunciada. Gente que nunca se constrangeu em se eleger por meio de um processo que aponta como “defeituoso” e “pouco confiável” prepara o terreno para questionar a lisura das urnas que estão prestes a sepultar seu macabro projeto político.
Na democracia ateniense, os cidadãos eram chamados a decidir sobre o banimento e desterro de políticos que atentassem contra a liberdade pública ou cometessem outros atos considerados indignos.
A vontade desses cidadãos era expressa por meio do voto, anotado em cacos de cerâmica, chamados de óstracos— de onde vem o termo ostracismo, aplicado ao banimento dos inimigos da democracia.
O Brasil está prestes a banir a boçalidade bolsonarista para o canto escuro da História ao qual pertence. Vai fazer isso por meio do voto secreto e inviolável, em um processo seguro e transparente admirado em todo o mundo, as urnas eletrônicas.
Mas ainda que a os governistas ressuscitem os cacos de cerâmica, não conseguirão deter o ostracismo dessa noite escura que infelicita o País.
*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria na Casa
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