O Brasil é um país abençoado. Chega a ser difícil imaginar uma benesse que não tenhamos em abundância. Seja no campo das riquezas minerais, seja no da agricultura, somos um país fabuloso.
Mas nossa riqueza não é apenas material – é também humana. Temos um dos bons povos do planeta, reconhecidamente criativo, esforçado, afável e solidário.
Finalmente, temos também um importante legado de riqueza espiritual. Não somos um povo violento, amante das guerras e das invasões.
Foi graças à combinação de todos esses fatores que nossos ancestrais conseguiram contornar ameaças as mais sérias, no mais das vezes fruto da cobiça de povos estrangeiros, entregando às gerações contemporâneas um país digno de orgulho.
E eis que, em nossa era, iniciamos um processo, ainda sem data prevista para acabar, de destruição lenta, quase que imperceptível, mas progressiva e constante, da tão bela pátria que recebemos.
Nossos contemporâneos, permitam-me falar assim, praticamente iniciaram esse processo quando, ao longo de diversos governos, optaram pelo transporte rodoviário em um país de dimensões continentais.
As consequências dessa opção das gerações contemporâneas são gravíssimas. Começo pelo custo deste transporte, todo ele fornecido por empresas estrangeiras aqui instaladas. Em seguida, chego ao desperdício causado por sua ineficiência. Estima-se, por exemplo, que 15% de nossa safra seja perdida por conta da inexistência de uma rede de transportes eficiente.
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PublicidadeMas a bondade das gerações atuais para com o capitalismo estrangeiro não parou aí. Seguiu firme, promovendo uma segunda “abertura dos portos” – esta última, entretanto, de resultados calamitosos para um país que pretende se desenvolver.
Em verdade, o processo de desnacionalização da economia que se promoveu no nosso país, até onde pesquisei, não encontra paralelo no planeta!
Nos últimos anos, incríveis 60% das empresas brasileiras negociadas foram parar nas mãos de estrangeiros. Foi assim que chegamos ao insólito país cujos habitantes compram o leite de suas próprias vacas, a água mineral de suas próprias nascentes e a maioria dos produtos de sua própria terra de empresas estrangeiras aqui instaladas.
Da indústria alimentícia à mineração, da comunicação à siderurgia, dos transportes à energia, o que o Brasil possuía de melhor foi vendido a grupos estrangeiros. Um país não pode se desenvolver verdadeiramente sob tais condições.
Parece incrível, mas, vergonhosamente, empresas estrangeiras já são responsáveis por 70% de nossas exportações de soja, 15% das de laranja, 13% de frango, 6,5% de açúcar e álcool e 30% das de café! Isso já sangra o Brasil em mais de US$ 12 bilhões a cada ano só a título de remessa de lucros.
Diante dessa vergonha fico a temer pela cobrança das gerações seguintes, que estão por receber de nossas mãos um país loteado, retalhado, quase que vendido.
Não se diga, cinicamente, em nossa defesa, que a culpa foi do povo. Jamais. Este está lá, padecendo nas íngrimes encostas dos nossos morros, trabalhando de sol a sol, semeando e colhendo quase sempre sem apoio algum. Está lá nas fábricas e no comércio, cumprindo com o seu dever. Esse povo humilde, se algo der errado, terá sido vítima, jamais culpado. A culpa tem sido, é e será nossa. Nós, autoridades, empresários e formadores de opinião somos os responsáveis.
Que tal pensarmos um pouco sobre isso? Afinal, como dizia Pascal, “pensar faz a grandeza do homem”.