Há neste mundo um exército em ação. Ele tem cerca de 300 mil soldados. Nos idos de 2020 combateu ferozmente em lugares tão distintos como Somália, República Democrática do Congo, Afeganistão, Síria etc. – foram, em síntese, 21 conflitos.
Apurou-se que em meio a tantos combates encarniçados 5.748 soldados desse exército foram feridos. Ao longo daquele ano 2.674 morreram. Vítimas foram de tiros, bombas e até de minas terrestres que buscavam desarmar com as mãos nus.
Esse exército é de crianças. Algumas com apenas seis ou sete anos de idade. São recrutadas à força. Do dia para a noite passaram a ter como folguedos a arte de matar e como brinquedos seus instrumentos.
Nesse ponto alguém diria: uma pena, mas o que posso fazer? Vivo no Brasil, afinal. Distante dessa triste realidade. Aliás, para que escrever sobre isso? Para que nos trazer desnecessariamente tal angústia?
Defendo-me: escrevi algumas linhas sobre esse exército para falar de um outro – este, sim, próximo de sua casa. Dissolvê-lo está ao nosso alcance enquanto sociedade civil organizada. Refiro-me aos batalhões de crianças tragadas para a guerra do crime.
Li, em um relatório da ONU, que nos idos de 2017 registrou-se a perda diária de 32 crianças por conta deste conflito travado sob as nossas vistas. Decidi fazer algumas contas. Concluí que ao longo do ano foram 11.680 baixas neste exército – contra apenas 2.674 daquele outro que combate na África e Ásia. Tradução: morrem 4,3 vezes mais soldados mirins aqui no Brasil, que está em paz, do que pelas guerras travadas no outro lado do Oceano Atlântico.
Examinemos, agora, os campos de batalha. Situam-se, aqui no Brasil, não raramente a poucos metros das sedes de nossas mais importantes instituições. Em alguns casos do outro lado da rua.
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