Há muito tempo se joga uma expectativa enorme em torno da reforma política no porvir. Como uma panaceia contra todos os nossos males e mazelas nacionais. Repete-se a frase: “É a mãe de todas as reformas”. É fato, melhorando o processo decisório e o ambiente de governabilidade, todos os outros desafios ficam mais fáceis. No mundo inteiro há um mal estar da sociedade com o sistema democrático representativo. Mas é preciso ter claro, em primeiro lugar, que a reforma política não é um clamor das ruas. A percepção popular é difusa e distante em relação ao tema.
Dito isto, vamos direto ao assunto. O nosso sistema eleitoral, político e partidário se esgotou. Exige mudanças. O Senado Federal optou por uma dinâmica que apelidei de “fatiamento anárquico”. A Câmara dos Deputados adotou postura diversa, procurando aprovar uma proposta com princípio, meio e fim, um conjunto coerente de iniciativas. Votaremos o relatório da Comissão Especial da Reforma Política até o final de maio.
Como vice-presidente da Comissão e um dos deputados brasileiros que mais estuda e se dedica ao tema, gostaria de compartilhar com os leitores em três artigos – a partir deste – o estado da arte de tema tão decantado em prosa e verso na retórica política, começando pelo sistema político e eleitoral.
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O sistema brasileiro atual produz uma distância abissal entre a sociedade e sua representação, campanhas caríssimas e o enfraquecimento dos partidos políticos – instituições cheias de defeitos, mas imprescindíveis na democracia.
No século XX, as democracias avançadas geraram dois sistemas clássicos: o distrital puro (EUA, Canadá, Reino Unido e França) e o proporcional em lista (Espanha, Itália e Portugal). No primeiro, vota-se no sistema majoritário no candidato a deputado que compete com os outros em um território pequeno. No outro, se vota no partido, no programa, e cada partido faz cadeiras proporcionalmente aos votos obtidos em escala nacional. A Alemanha, no pós-guerra, adotou o distrital misto, que conjuga as qualidades e atenua os defeitos dos dois sistemas clássicos. Por isso, eu e o PSDB, advogamos em favor da adoção desse sistema.
Na votação que ocorrerá em maio, optaremos entre o distrital misto e a proposta nova do PMDB do chamado distritão, em que se elegem os mais votados em campanhas individualizadas. Os outros sistemas não têm apoio e defensores suficientes. O distrital misto aproxima a sociedade de sua representação, barateia as campanhas e fortalece os partidos. O distritão, em minha opinião, faz o inverso. Ao levar o individualismo e personalização da política ao extremo, não aproxima eleitores e eleitos, encarece de forma selvagem as campanhas e enfraquece os partidos, a partir da supressão de qualquer mediação institucional.
PublicidadeÀs vezes, propostas fáceis de explicar são as mais perigosas para se lidar com problemas complexos como o da representação política. É isto que estará no centro das discussões nas próximas semanas.