Dia desses meditava sobre a pauta de julgamentos das câmaras criminais lá do Tribunal de Justiça. Entra ano, sai ano, e o tema nunca varia: quase sempre tráfico de entorpecentes. Por outro lado, não me recordo de ter passado por lá sequer um processo relativo à criminalidade digital! Um único que fosse, ao longo de mais de duas décadas!
A propósito deste quadro – verdadeiramente mundial, registro – o chefe da Interpol, Khoo Boon Hui, lançou um sério alerta: 80% dos crimes cometidos por meio da internet são fruto da ação de quadrilhas poderosas, de amplitude mundial.
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Citando um estudo da London Metropolitan University, acrescentou ele que este tipo de criminalidade tem causado mais prejuízos que o tráfico de cocaína, heroína e maconha somados. Estamos a falar de algo em torno de 750 bilhões de euros a cada ano – somente na Europa!
Vamos a outro exemplo: vítimas da denominada “criminalidade tradicional”, os bancos norte-americanos perdem, a cada ano, US$ 900 milhões – contra US$ 12 bilhões por conta da “cibercriminalidade”.
Decidi buscar mais informações. Descobri que a África perdeu, em 2016, US$ 2 bilhões por conta deste delito. Na África do Sul, 70% dos habitantes já foram vítimas da criminalidade digital. Na Alemanha, uma a cada três empresas sofre ataques digitais. Em Israel, são inacreditáveis 1.000 ataques a cada minuto.
PublicidadeNa América Latina, os roubos tradicionais a bancos respondem por apenas 1,5% do problema, contra 98,5% dos praticados pela internet. O Brasil, segundo levantamento realizado pela empresa Kaspersky, é a vítima maior a nível planetário, com números superiores aos da Rússia e Alemanha, que o seguem.
Recente cálculo da seguradora britânica Lloyd’s demonstrou que um único ataque, se praticado em escala global, pode custar até US$ 121 bilhões de dólares para suas vítimas.
Esta questão adquire contornos ainda mais sérios quando afeta e até mesmo coopta a geração seguinte. Na Austrália, por exemplo, 9.860 crianças foram presas ou processadas por conta de terem aderido a esta forma de crime – isto no já distante ano de 2008.
Enquanto isso ocorre, lá estão nossos melhores policiais e juízes, sufocados pela burocracia regionalizada em um mundo globalizado, combatendo sem êxito um problema que, segundo a ONU, é antes de tudo de saúde pública.