Já parou pra pensar quantos lobistas existem no Brasil? Onde trabalham? Como atuam?
No meio do arrocho fiscal em 2016 e diante do receio do fim de benefícios fiscais, a Irmã Aparecida teve que abandonar temporariamente a vida no convento para mostrar a relevância das ações das entidades filantrópicas e a defender importância das isenções fiscais. Ela foi indicada como porta-voz do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif), que reúne 50 instituições como Santa Casas de Misericórdia, Pontifícia Universidade Católica e Universidade Metodista de São Paulo, para defender o retorno do dinheiro público destinado. Lobby santo.
O caso Adelir de Goes em 2014 desencadeou a organização de grupos de mães no movimento social “Parto do Princípio” e a realização do Congresso Nacional do Parto Humanizado, demandando a redução do número de procedimentos cesarianos (o Brasil tinha um percentual de cerca de 80%, quando a OMS recomenda apenas 20%). O resultado foi a publicação, um ano depois, da Resolução ANS 368, que determinou que procedimentos cesarianos não poderiam mais ser optativos, mas realizados somente sob comprovada prescrição médica. A medida teve impacto milionário no setor.
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Experiências como essas demonstram que o perfil do lobista brasileiro vai muito além do estereótipo que vaga no senso comum, do executivo de terno e gravata bem articulado e conhecedor dos caminhos de Brasília. São realidades das mais diferentes, desde o pequeno associado na defesa de interesse de comunidades do interior até representantes de grandes grupos internacionais.
Para trazer evidências sobre esse universo reunimos diversos pesquisadores e especialistas e realizamos a pesquisa O Perfil do Profissional de Relações Governamentais, que contou com consultas ao Ministério do Trabalho, análise de editais de vagas para lobistas e questionários enviados para centenas de profissionais.
Já parou pra pensar quantos lobistas existem no Brasil? Na verdade existem muitas instituições estabelecidas com o propósito de defesa de interesses. No Brasil coexistem dois modelos de defesa de interesses: o associativo livre (típico americano) e o sistema sindical (típico europeu). Somadas associações e entidades o número passa de 40 mil. Isso sem considerar as empresas, ONGs, governos e consultorias especializadas.
Os dados levantados nos mostram como é vasto e diversificado o universo do lobby. A estimativa é que o Brasil tenha cerca de 96 mil profissionais de Relações Governamentais, mesmo que o cargo no cartão tenha outro nome. Isso porque muitas vezes o responsável pela defesa de interesses pode estar intitulado como Assuntos Estratégicos, Políticas Públicas, CEO, etc. E ainda porque alguns ainda não têm a percepção de que fazem parte desse universo.
Mas os levantamentos não param por aí. A pesquisa apura ainda onde estão distribuídos e como estão concentrados os lobistas no Brasil, os setores que mais contratam lobistas e as competências mais demandadas desses profissionais.
Mais além, cruza dados para revelar nuances do “lobista brasileiro”, sobre a organização, idade, gênero, habilidades, capacitação, experiência e remuneração. É possível, por exemplo, inferir que o perfil de um diretor lobista de uma empresa tem entre 36 e 45 anos, domina a fluência no inglês, é hábil articulador e negociador e sabe gerenciar riscos políticos, trabalha há mais de 20 anos na área, possui MBA e ganha cerca de 30 mil reais, podendo ultrapassar os 40 mil.
Desde o lobby cidadão local até o lobby corporativo internacional, a defesa de interesses em políticas públicas vai muito além do imaginário popular, causa grande impacto e traz profundas transformações sociais. Mesmo que esteja além da nossa vista.
A pesquisa está disponível neste link para quem quiser saber mais.
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