Emanuel convidou Jaci e Oxalá para recepcionarem um convidado muito especial e querido da humanidade. Embora soubesse da clarividência dos dois, Emanuel não quis dizer o nome de seu visitante, na remota esperança de que poderia causar uma surpresa positiva quando o descobrissem. Quando chegaram, perceberam que Emanuel havia preparado uma linda mesa repleta de alimentos veganos, bebidas não alcoólicas e mensagens positivas em sânscrito.
– Que lindo! – exclamou Jaci. – Ainda mais com esses cânticos de louvor ao nosso Sidarta! Então é essa a surpresa! Viva!
– Eu sabia que você ia gostar de saber da visita dele, querida Lua – sorriu Emanuel. – Seres iluminados se reconhecem um no outro.
– Será que é por essa intimidade reconhecida, que a nossa sapeca ainda chama Buda pelo nome de Sidarta – brincou Oxalá. – Mesmo tendo ele deixado no passado o nome de nascença?
– Nunca perguntei o que ele achava disso, mas sei que ele um dia olhou para mim e disse: “Não tenha medo de desapegar do que não te serve, na vida tudo passa” – gargalhou Jaci. – Será que era uma indireta?
– Sei não, Jaci! – brincou Oxalá. – Mas ele é exemplo de desapego, pois renunciou a um luxuoso principado na Índia e ao destino nababesco que a riqueza paterna lhe oferecia, para se dedicar à busca de conhecimentos que pudessem dar fim à miséria e ao sofrimento.
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– E é por isso que eu gosto tanto dele – afirmou, Jaci. – Ele saiu da fase minguante em que permanentemente vivia, para, despido de qualquer vaidade ou propriedade material, crescer e iluminar espiritualmente o mundo.
– Aí você faz questão de lembrar a ele da fase Sidarta – seguiu, brincando, Oxalá. – Acho que seria a mesma coisa chamar Paulo de Tarso pelo antigo nome de Saulo, não é Emanuel?
– Bem lembrado! – concordou Emanuel. – Paulo também fez uma mudança radical em sua vida. De militar romano que perseguia e matava os seguidores de meu Pai, tornou-se um apóstolo Dele. Mudou completamente o foco do seu bom combate.
– Estou começando a achar que vocês têm a mais absoluta razão – reconheceu Jaci. – A partir de agora somente chamarei Sidarta pelo nome de Buda.
– Eu também gosto quando contam da transformação do filho de Bayani em Xangô – lembrou Oxalá. – A transmutação de uma pessoa comum em orixá aponta a importância da correção durante o caminho escolhido, usando uma das lições de Buda.
– Eu mesma contei para vocês a história de Yaci – complementou Jaci. – Ela se ofereceu em sacrifício para salvar o seu povo da fome, transformando o seu corpo em nova vida e fonte de energia.
– Apaixonante a história do nascimento do açaí, Jaci – pontuou Oxalá. – Todas essas pessoas têm em comum a ideia de que nossas criaturas podem mudar radicalmente, desde que essa mudança seja sincera, correta e real.
– Meu Pai ensinou em Efésios que quanto à maneira antiga de viver, as pessoas deveriam aprender a despir-se do velho e se renovarem no modo de pensar, revestindo-se em novas pessoas – emendou Emanuel.
– Eu amo a borboleta por ter o poder de metamorfosear-se por inteiro – pontuou Jaci. – A borboleta não é superficial, oportunista ou traiçoeira. Ela sai do casulo para uma nova vida, livre, colorida, modificadora.
– Como fez Buda, ao sair da redoma de vidro que o separava do mundo real. Ele escolheu o caminho do coração, da paz que vem de dentro, da conquista vivida na plenitude do hoje – complementou Oxalá. – Não fez uma mudança fictícia, daquela que é utilizada para encanar as pessoas incautas.
– “Não importa quantas palavras sagradas tenhas lido, e não importa quantas tenhas dito. De nada servirão se não agir de acordo com elas” – ouviu-se a voz iluminada de Buda, ao ingressar na casa de Emanuel, cumprimentando os presentes com as mãos juntas e fazendo uma respeitosa reverência. – Namastê!
– Namastê, meu querido Buda! – respondeu, alegre e brilhante, Jaci, não esquecida do nome adotado por Sidarta. – Estava com saudade de você, das nossas caminhadas noite adentro.
– “Toda grande caminhada começa com um simples passo” – respondeu, carinhosamente Buda. – E nós já estamos caminhando, esperançados, por muito tempo, não é?
– Verdade, meu amigo de infinitas jornadas! – cumprimentou, efusivamente, Emanuel. – Bem-vindo à nossa morada!
– Prazer em reencontrar você, Buda – disse Oxalá, abraçando-o.
– Eu não via a hora de nos encontrarmos, luzes da humanidade! – retribuiu Buda. – Mas eu tinha certeza do nosso reencontro, pois “tudo que somos é o resultado do que pensamos”. E precisamos pensar juntos e juntas, caso queiramos mudar a própria humanidade.
– Amém! – respondeu Emanuel. – Entre! Nós temos muito trabalho a fazer.
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