No Brasil já tivemos mais pudor, palavra em desuso mas que pode ser substituída pela boa velha expressão “vergonha na cara”. Os mais antigos, ao serem apanhados com a boca na botija ou nalguma parte pudenda, debulhavam-se em lágrimas, iam pro deserto com a cabeça coberta de cinzas ou ateavam fogo às vestes. Mas vergonha na cara o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, não teve um pingo, ao aparecer na maior cara-de-pau num vídeo ao lado de assessores dizendo aproveitar a “folguinha” carnavalesca para dar um pulo ali na Europa a fim de buscar soluções “inovativas” destinadas a melhorar a segurança dos cariocas. Tu acreditaste? Nem eu. E esse neologismo “inovativa”? Diabéisso?
Em primeiro lugar, Crivella não tinha o direito de abandonar a cidade no momento em que ela se torna o centro das atenções do planeta, ao sediar a festa que mais a caracteriza. Se suas convicções religiosas não o faziam sentir-se à vontade no carnaval, que procurasse um local de retiro numa cidade próxima, tendo antes o cuidado de dizer à comunidade que governa onde estaria e como poderia ser acionado. Mas simplesmente deixar o Rio e o Brasil num momento desses é a maior prova do descaso com a função para a qual foi eleito. Faltou-lhe compromisso com o cargo. Seu lugar era no Rio, comandando as ações de segurança possíveis e impossíveis para fazer frente ao descalabro da violência que aterroriza os moradores. E não saracoteando pela Europa. Em segundo lugar, disse ter tomado todos os cuidados para que o carnaval dos cariocas fosse “incrível”. E foi! Nunca se viu tanta violência nas ruas. Incrível mesmo.
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Óleo de peroba está em falta
A cara-de-pau dos nossos políticos é tanta que foi decretado o racionamento do óleo de peroba, já que os atos que praticam se superam em criatividade. Eles vêm treinando desculpas “inovativas” há anos.
Ninguém me contou – eu ouvi do anão do orçamento, deputado João Alves, lá no final dos anos 80, que a bufunfa encontrada em sua conta era porque ele “quase toda semana acertava na loteria”. Acertou 200 vezes, o danado. Cara-de-pau sortudo, aquele baiano.
Eduardo Cunha negou ser dono de um monte de dinheiro da conta que mantinha no exterior, ganho, segundo ele, com a venda de carne enlatada pra África. “E esse dinheiro não é meu, sou apenas usufrutuário”, acrescentou. Além de lexicógrafo, revelou-se um cara-de-pau usufrutuário e… agropecuário!
O ex-governador do DF, José Roberto Arruda, flagrado num vídeo recebendo 50 mil reais do ex-secretário Durval Barbosa, disse que o dinheiro era pra pagar panetones que distribuía a famílias carentes no Natal. Cara-de-pau jingle bells, é claro.
Jacques Wagner, ex-governador da Bahia, ganhou relógios caríssimos da Odebrecht. “Recebi, mas não usei”, confessou. Um cara-de-pau fiel depositário, é ou não é?
Quando se descobriu que ele havia assinado meio quilo de atos secretos nomeando parentes e concedendo assistência odontológica a cônjuges de parlamentares, o então senador Sarney alegou ter havido “erro técnico”. E disse desconhecer a existência dos atos. Tá na cara (de pau) que se trata de um cara-de-pau amnésico.
A imprensa encontrou uma carta assinada por Paulo Maluf transferindo 100 milhões de dólares de propina de uma conta na Suíça para outra na Inglaterra. “A letra não é minha”, ele disse. Caso típico de cara-de-pau com formação grafotécnica.
O ex-deputado Pedro Novaes, flagrado usando verba indenizatória pra pagar diária de motel, garantiu: “Nunca estive no estabelecimento”. Um cara-de-pau visivelmente virtuoso.
Políticos fósseis, soluções fáceisNa próxima eleição, com mais de duas dezenas de candidatos ao Palácio do Planalto e um piqueiro de candidatos ao Congresso e às assembleias, é bom ficar de botuca acesa em relação aos caras-de-pau e suas atitudes. A primeira lição é desconfiar de promessas impossíveis, tipo: – Vou acabar com a violência! Vou acabar com a corrupção! Vou dar emprego pra todo mundo! Políticos fósseis sempre propõem soluções fáceis, como “bandido bom é bandido morto”. Atuam na mesma toada desses pastores cretinos que prometem o paraíso no céu e na terra a quem pagar religiosamente o dízimo. Arrecadam a grana suada e os votos preciosos dos mais necessitados e os coitados acreditam que eles obram milagre a quilo.
Milagre a quilo
Tu acreditas em milagre a quilo? Eu também não. Nem acredito em político safado que promete o impossível pra se eleger. E as desculpas, como se vê, são sempre as mais absurdas. Mas é incrível a capacidade desses caras-de-pau para iludir a patuléia. Ainda na área dos espertalhões milagreiros, o bispo Macedo, que milhões acreditam capaz de acabar coma miséria com uma mão na Bíblia e a outra no bolso (onde guarda uma fortuna avaliada pela revista Forbes em mais de 2 bilhões de reais) é um ótimo exemplo. Curioso é que não param de crescer os que caem na conversa dessa gente – tanto dos pastores malandros como dos políticos idem.
E tome dízimo! E haja voto! Pelo andar da carruagem, vai ser preciso criar uma solução “inovativa” pra suprir a falta de óleo de peroba. Ou aumentar o racionamento.
No Brasil já tivemos mais pudor, palavra em desuso mas que pode ser substituída pela boa velha expressão “vergonha na cara”. Os mais antigos, ao serem apanhados com a boca na botija ou nalguma parte pudenda, debulhavam-se em lágrimas, iam pro deserto com a cabeça coberta de cinzas ou ateavam fogo às vestes. Mas vergonha na cara o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, não teve um pingo, ao aparecer na maior cara-de-pau num vídeo ao lado de assessores dizendo aproveitar a “folguinha” carnavalesca para dar um pulo ali na Europa a fim de buscar soluções “inovativas” destinadas a melhorar a segurança dos cariocas. Tu acreditaste? Nem eu. E esse neologismo “inovativa”? Diabéisso?
Em primeiro lugar, Crivella não tinha o direito de abandonar a cidade no momento em que ela se torna o centro das atenções do planeta, ao sediar a festa que mais a caracteriza. Se suas convicções religiosas não o faziam sentir-se à vontade no carnaval, que procurasse um local de retiro numa cidade próxima, tendo antes o cuidado de dizer à comunidade que governa onde estaria e como poderia ser acionado. Mas simplesmente deixar o Rio e o Brasil num momento desses é a maior prova do descaso com a função para a qual foi eleito. Faltou-lhe compromisso com o cargo. Seu lugar era no Rio, comandando as ações de segurança possíveis e impossíveis para fazer frente ao descalabro da violência que aterroriza os moradores. E não saracoteando pela Europa. Em segundo lugar, disse ter tomado todos os cuidados para que o carnaval dos cariocas fosse “incrível”. E foi! Nunca se viu tanta violência nas ruas. Incrível mesmo.
Óleo de peroba está em falta
A cara-de-pau dos nossos políticos é tanta que foi decretado o racionamento do óleo de peroba, já que os atos que praticam se superam em criatividade. Eles vêm treinando desculpas “inovativas” há anos.
Ninguém me contou – eu ouvi do anão do orçamento, deputado João Alves, lá no final dos anos 80, que a bufunfa encontrada em sua conta era porque ele “quase toda semana acertava na loteria”. Acertou 200 vezes, o danado. Cara-de-pau sortudo, aquele baiano. Eduardo Cunha negou ser dono de um monte de dinheiro da conta que mantinha no exterior, ganho, segundo ele, com a venda de carne enlatada pra África. “E esse dinheiro não é meu, sou apenas usufrutuário”, acrescentou. Além de lexicógrafo, revelou-se um cara-de-pau usufrutuário e… agropecuário! O ex-governador do DF, José Roberto Arruda, flagrado num vídeo recebendo 50 mil reais do ex-secretário Durval Barbosa, disse que o dinheiro era pra pagar panetones que distribuía a famílias carentes no Natal. Cara-de-pau jingle bells, é claro. Jacques Wagner, ex-governador da Bahia, ganhou relógios caríssimos da Odebrecht. “Recebi, mas não usei”, confessou. Um cara-de-pau fiel depositário, é ou não é? Quando se descobriu que ele havia assinado meio quilo de atos secretos nomeando parentes e concedendo assistência odontológica a cônjuges de parlamentares, o então senador Sarney alegou ter havido “erro técnico”. E disse desconhecer a existência dos atos. Tá na cara (de pau) que se trata de um cara-de-pau amnésico. A imprensa encontrou uma carta assinada por Paulo Maluf transferindo100 milhões de dólares de propina de uma conta na Suíça para outra na Inglaterra. “A letra não é minha”, ele disse. Caso típico de cara-de-pau com formação grafotécnica. O ex-deputado Pedro Novaes, flagrado usando verba indenizatória pra pagar diária de motel, garantiu: “Nunca estive no estabelecimento”. Um cara-de-pau visivelmente virtuoso.
Políticos fósseis, soluções fáceis
Na próxima eleição, com mais de duas dezenas de candidatos ao Palácio do Planalto e um piqueiro de candidatos ao Congresso e às assembleias, é bom ficar de botuca acesa em relação aos caras-de-pau e suas atitudes. A primeira lição é desconfiar de promessas impossíveis, tipo: – Vou acabar com a violência! Vou acabar com a corrupção! Vou dar emprego pra todo mundo! Políticos fósseis sempre propõem soluções fáceis, como “bandido bom é bandido morto”. Atuam na mesma toada desses pastores cretinos que prometem o paraíso no céu e na terra a quem pagar religiosamente o dízimo. Arrecadam a grana suada e os votos preciosos dos mais necessitados e os coitados acreditam que eles obram milagre a quilo.
Milagre a quilo
Tu acreditas em milagre a quilo? Eu também não. Nem acredito em político safado que promete o impossível pra se eleger. E as desculpas, como se vê, são sempre as mais absurdas. Mas é incrível a capacidade desses caras-de-pau para iludir a patuléia. Ainda na área dos espertalhões milagreiros, o bispo Macedo, que milhões acreditam capaz de acabar coma miséria com uma mão na Bíblia e a outra no bolso (onde guarda uma fortuna avaliada pela revista Forbes em mais de 2 bilhões de reais) é um ótimo exemplo. Curioso é que não param de crescer os que caem na conversa dessa gente – tanto dos pastores malandros como dos políticos idem.
E tome dízimo! E haja voto! Pelo andar da carruagem, vai ser preciso criar uma solução “inovativa” pra suprir a falta de óleo de peroba. Ou aumentar o racionamento.