Ninguém mais tem dúvidas sobre o caráter disruptivo das eleições de 2018. Foi uma forte ruptura com os padrões de organização do sistema político tradicional. Os grandes partidos – PSDB, PT, DEM e MDB – sofreram revés eleitoral. Surgiram novas forças. A renovação foi grande: 47,3% dos deputados eleitos e 85% dos vitoriosos nas vagas disputadas no Senado são nomes novos.
As eleições de Bolsonaro para a Presidência e de governadores como Zema (MG), Witzel (RJ), Ibaneis (DF), Comandante Moisés (SP) e Wilson Lima (AM) representam a vitória de “outsiders” sobre o establishment. O Congresso ficou mais plural e fragmentado, com a presença de 30 partidos.
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Tudo isso foi resultante de um forte sentimento antipolítica potencializado pelo protagonismo inédito das redes sociais, a partir da corrupção endêmica, do impeachment e dos efeitos da crise econômica. O sinal já estava presente nas jornadas de rua de 2013. As lideranças tradicionais operaram com software obsoleto. “Abaixo a velha política”, “Contra os mesmos políticos de sempre”, “não reeleja ninguém” foram os lemas vitoriosos.
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Mas Aristóteles já resolveu isso antes de 300 a.C.: “O Homem é um animal político”. A eleição de 2018 não representa o fim da política e da democracia. Foi um momento de explosão social e catarse coletiva.
Agora os eleitos pelo discurso contra a política terão um novo desafio: fazer política e dar forma ao que seria a “nova política”. Na verdade, não há nova ou velha política, existe boa e má política, incorporados os avanços de cada época. Sempre lembrava Tancredo Neves em 1985. Maluf provocou: “O Brasil não deve eleger um presidente com mais de 70 anos de idade”. Do alto de sua sabedoria, Tancredo respondeu: “Churchill, aos 75 anos, levou os aliados à vitória contra o nazismo e salvou a democracia. Nero, aos 20, incendiou Roma”. Pano rápido.
PublicidadeMas a cultura antipolítica está disseminada por todos os lados. A criminalização da política começa no sistema judiciário. Setores da Lava Jato, apesar dos méritos no combate à corrupção, querem criminalizar inclusive o caixa um e tudo que cheire à política.
Até o Congresso caminhou para a autocriminalização. Indiquei uma pessoa para a diretoria de administração pública e política urbana do BNDES diretamente ao presidente Michel Temer. Era um ex-político, mas tinha dois mestrados exatamente nas duas áreas em instituições acadêmicas qualificadas. Semanas após, recebi a resposta: a Lei das Estatais não permite que integrantes de diretórios partidários, coordenadores de campanha ou detentores de mandatos sejam diretores ou conselheiros de estatais sem uma quarentena de três anos. Não acreditei que o Senado tinha votado isso. Qual é a autoimagem que passamos? Política é coisa suja, abjeta, não participe.
Por último, a criminalização pelo próprio mercado. Um conhecido tentou abrir uma conta no Banco Itaú. Já era cliente do banco há muitos anos. Foi negada a abertura. Alegação: a pessoa tinha sido diretora do instituto de estudos e pesquisas de seu partido político e supostamente um ex-diretor do instituto estaria envolvido na Lava Jato.
São exemplos absurdos de criminalização da política, sinais desses tempos nebulosos.
Fora da liberdade e da democracia não há salvação. A exacerbação do espírito antipolítica nos levará a impasses e ameaças autoritárias. É uma escolha. Só depende de nós.
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