Fiquei a pensar nelas há alguns dias, ao ler uma coletânea de financiamentos concedidos pelo Brasil, nas últimas décadas, a empresas e até mesmo países estrangeiros. Ora é uma empresa europeia que duplica seu parque industrial com a nossa ajuda, ora é um país africano que melhora sua infraestrutura graças aos nossos cofres.
Nada contra ajudar outros povos, e fique isto bem claro. Mas que não nos esqueçamos, jamais, do notável povo que habita esta terra – um povo que nunca retirou seu sustento de guerras ou invasões, e cujos ancestrais conseguiram o milagre de fazer grande um país pilhado e saqueado ao longo de séculos. Sim, eis aí uma verdade pouco divulgada e pouco comentada, mas que deve ser dita: o povo brasileiro é um milagre!
Inicio trazendo recente estudo da “London Business School”, divulgado recentemente, a mostrar que, entre 21 países pesquisados, o Brasil tem o povo mais empreendedor. De cada oito brasileiros, um está tocando seu próprio negócio. Nos Estados Unidos, o segundo colocado, a relação é de dez para um. No Japão, de cem para um.
O incrível é que o brasileiro, em sua ânsia empreendedora, não se intimida sequer diante da insensibilidade e baixa inteligência da burocracia. Assim, por exemplo, enquanto nos Estados Unidos são necessários quatro dias para a abertura de uma empresa, aqui gastamos 86. Por conta disso, 76% das microempresas brasileiras funcionam sem autorização.
E os processos trabalhistas? Nos Estados Unidos, 75.000 anuais. Aqui no Brasil, 2,2 milhões. Mas não desanima, o brasileiro!
A carga tributária é terrível: no dito “Primeiro Mundo”, oscila entre 20 e 24% do PIB. Enquanto isso, o empresário tupiniquim lida com espantosos 36% do PIB, um recorde mundial! Detalhe: no mais das vezes, sem contraprestação da Administração.
E isto tudo sem crédito. Recordo-me, por exemplo, de notícia que li em um jornal de grande circulação e que dá bem a ideia da situação: “Crédito para micros não sai do papel”.
Ouso, aqui, acrescentar que, com preocupante freqüência, sequer com a estabilidade das regras, indispensável para qualquer negócio, o empresariado tem contado – recente estudo do Idesp, realizado junto a 800 empresas, apontou que a morosidade do Judiciário, dado causar insegurança jurídica, acarreta perdas de US$ 100 bilhões de dólares por ano, em redução de investimentos e dispensa de pessoal!
Mas o brasileiro é mesmo um forte, como dizia o poeta: nossas microempresas, mesmo diante deste tenebroso quadro, têm sido gigantes em suas fraquezas.
Assim, as micro e pequenas empresas já são 3,4 milhões, ou 98% das empresas instaladas no Brasil. Empregam 35 milhões de pessoas, ou metade da população ocupada. Participam com 20% do PIB, ou 200 bilhões de reais. Respondem por 12% das exportações, ou 20 bilhões de reais.
Apenas para que se tenha uma ideia, somente a microindústria do artesanato emprega 8,5 milhões de pessoas, que produzem 2,3% do PIB – é quase o que representa a indústria automobilística, responsável por 3% do PIB.
Diante deste quadro, que privilegia tantas empresas estrangeiras em detrimento das brasileiras, talvez fosse oportuna uma reflexão sobre as palavras de Bernard Shaw, segundo quem “o maior dos males e o pior dos crimes é a pobreza”. Ou as de Lamennais: “o grito dos pobres sobe até Deus, mas não chega aos ouvidos do homem”.
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