Cléber Lourenço*
Antes de começarmos essa coluna, vamos com a observação: a intentona bolsonarista custou caro para as empresas capital aberto que perderam 195 bi em valor de mercado, tensão que terminou com um vexaminoso pedido de desculpas.
A verdade é que ninguém muda em dois dias, o Bolsonaro que subiu no palanque para acintar o Supremo Tribunal Federal no dia 7, não é muito diferente do Bolsonaro que assinou a notinha escrita por Michel Temer no dia 9.
Tanto é que passadas miseras três horas, após a publicação do pedido de desculpas, ele fez trocadilhos capciosos ao se dirigir ao Ministro Roberto barroso e já voltou a atacar o sistema eleitoral. Afirmou que recebeu mais votos que o registrado e toda aquela bobajada. Não sem antes requentar a falácia mentirosa de que o artigo 142 da Constituição Federal permite uso das Forças Armadas como poder moderador.
Acontece que sem mandato, não tem foro, nem aparelhamento ou ABIN paralela para os filhos. O episódio dessa semana apenas sacramenta o que falei nas últimas semanas: é um presidente fraco que apostou mais fichas do que tinha nas mãos e que infelizmente não acabou como Jânio Quadros de tão retumbante que é a sua incompetência.
Fecho esse bloco com um trecho da coluna da semana passada:
“Falta muito tempo até janeiro de 2023, até lá ficaremos nesse marasmo de um governo que não existe, um presidente que não trabalha e um golpe que jamais ocorrerá e será o eterno moinho de vento de alguns Dom Quixotes da política”.
A saga da terceira via
Já se tornou bucólica a cobertura entorno da amorfa terceira via, que assim como o tal golpe: nunca chega.
Nas últimas semanas aconteceram votações históricas no Congresso Nacional, privatização dos correios, voto impresso, reforma política e MP 1045.
Uma das coisas que conseguimos notar – principalmente na votação do voto impresso – é que os partidos que buscam ocupar o posto de “terceira via”, não possuem o mínimo de organização, muitos deles tiveram mais de 30% das suas bancadas votando contra a orientação do partido e consequentemente endossando a intentona presidencial contra o pleito do ano que vem.
E talvez isso explique o resultado pífio dos prováveis presidenciáveis que buscam ocupar a cadeira, não há organização no nível partidário, logo, quem dirá no âmbito interpartidário.
É claro, se falta vontade de fazer política na dita terceira via, sobram inúmeras súplicas para que alguns candidatos desistam e que magicamente esse grupo dito de centro, consiga alguma relevância.
E é claro, para dar alguma altitude para o voo de galinha do tal grupo, vale tudo, até mesmo senadores se atropelarem aos tropeços para apresentar uma PEC para que eleição presidencial tenha 2º turno com 3 candidatos. É simplesmente inacreditável.
Por isso, não julgo a presença do Ciro Gomes nos atos do dia 12. Ele não está errado. Ciro quer se consolidar como terceira via, mesmo que os articuladores do conceito o excluam deliberadamente.
Logo, para alguns candidatos o maior oponente em 2022 será o próprio primeiro turno.
Terceira via lavajatista
Nada é tão ruim que os resquícios de lava jato não possam piorar, ontem tivemos um senador e entusiasta do movimento político fundado no seio do Ministério Público, alegando que Bolsonaro seria a personificação do estelionato eleitoral.
A pergunta de um milhão de dólares é: que estelionato Jair Bolsonaro cometeu? Ele entregou exatamente aquilo que prometeu nos últimos 30 anos. Leiam o plano de governo dele.
Deixo uma prévia:
Do outro lado temos o Podemos, um partido cunhado na aurora da lava jato – que também busca uma terceira via para chamar de sua -. No dia anterior lançou uma vistosa nota posicionando o partido contra o impeachment de Jair Bolsonaro e no dia seguinte aderiu aos que pedem o impeachment do Ministro Alexandre de Moraes.
Observação: o Podemos afirmou ser contra o impeachment do presidente sob a alegação de que defende a estabilidade do país, fez sentido para vocês?
Mas não fico surpreso com os posicionamentos exóticos, é normal que indivíduos e partidos identificados com o movimento lavajatista possuam uma notória dificuldade de realizar leituras sobre a conjuntura política. Oras, o lavajatismo é antipolítica em sua essência.
Primeiro Ministro
Bolsonaro e as trapalhadas entorno do 7 de setembro, colocaram o seu governo de uma forma que o centrão sempre sonhou: inexistente.
Sem força para nada, Lira poderá exigir o que bem entender, com isso o governo fica longe do impeachment. Amanhã o país amanhecerá com um Primeiro Ministro.
Aras no STF
O pseudorecuodo presidente é o atestado de óbito da nomeação de André Mendonça para o STF, o nome mais provável para a sua substituição é Augusto Aras, o atual PGR.
Sem impeachment
O momento mais próximo que estivemos do impeachment de Jair Bolsonaro foi com a escalada pífia da paralização dos caminhoneiros comandada por empresários, antes disso o impeachment não estava no radar, o motivo?
Repararam que Mourão esteve ao lado do presidente tanto em São Paulo, quanto em Brasília?
O Mourão de 2021 não é o Temer de 2015, isso dificulta as coisas. Para que o impeachment se viabilize, o governo seguinte já precisaria estar acertado.
Paulo Guedes, essa conquista é sua
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses bateu 9,68%. No governo Dilma o auge foi 8,99%. Quem quer ir ao mercado e agradecer ao Paulo Guedes?
Golpe está aí
Na véspera do dia 7, diversos analistas davam como vitoriosa a intentona bolsonarista, cravaram que os dias seguintes consolidariam o tal golpe.
O que eles não contavam era com a desorganização da base de apoio golpista.
No dia 8, empresários decidiram mobilizar caminhoneiros para promover trancamentos ao redor do país e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e foi aí que o caos se instaurou.
Bolsonaro gravou um áudio pedindo que cessassem a escaramuça, os caminhoneiros disseram que o áudio era falso, então o Ministro Tarcísio Freitas fez um vídeo reafirmando a veracidade do áudio, só não contavam com o Deputado Otoni de Paula que faz parte da BASE DO GOVERNO, e disse aos manifestantes em Brasília que o tal áudio era falso, logo, de quebra ele também atacou o Tarcísio, MINISTRO DO GOVERNO taxando-lhe de mentiroso.
Resumo: deputado da base governista chamando ministro de mentiroso.
Menção honrosa
É praticamente impossível não lembrar de Deltan Dallagnol e da lava jato ao ver a confusão dos últimos dias, afinal e contas, foram fiadores do atual presidente.
Dessa vez a visão profética do Deltan se realizou:
* Cleber Lourenço é pós-graduando em Jornalismo político.
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