Discutimos, na última semana, as diversas fontes de instabilidade no mundo atual: o fantasma de Trump, o conflito Israel- Hamas, a Guerra da Ucrânia, ditaduras de direita e esquerda ameaçando a democracia, as enormes desigualdades sociais que separam povos e Nações.
A apropriação dos frutos da globalização é desigual, reafirmando iniquidades históricas. A imigração em massa de países pobres patrocinou o aguçamento de sentimentos hostis de xenofobia e exclusão, fortalecendo uma extrema-direita míope e excludente. O mercado, em escala global, permite o livre trânsito de capitais (com um simples clique de computador se transfere bilhões de dólares de um país para outro) e de mercadorias (embora o protecionismo sobreviva disfarçado ou não), mas não de mão-de-obra. Daí o drama dos imigrantes na fronteira do México ou na Europa.
Vivemos uma crise mundial, pela irradiação dos problemas do sistema financeiro americano, em 2008 e 2009, e uma pandemia em 2020. Isto acionou um freio de arrumação na globalização, com a reorganização, em curso, das cadeias produtivas internacionais.
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E o Brasil diante desse mundo conturbado e em mudança permanente?
Do ponto de vista econômico, somos um dos países mais fechados do mundo. O nosso coeficiente de abertura externa, ou seja, exportações somadas a importações, divididas pelo PIB, vezes 100, é de apenas 24%. Enquanto isso na Coréia do Sul é de 108%; em Hong Kong, 375%; Singapura, 322%; Portugal, 85%; Espanha, 66%; Noruega, 69%; e, Austrália, 43%. Ou seja, nossos canais de comunicação com a economia
globalizada são muito menores que os dos países que deixaram de ser emergentes e entraram no mundo desenvolvido. Ainda assim,
dependemos, do ritmo da China, por suas repercussões na importação de commodities, e da taxa de juros americana, por conta do fluxo de capitais.
Nossa dívida externa é irrelevante, não é fonte de preocupação. Nossas reservas internacionais são robustas e se encontram em patamar
superior a US$ 355 bilhões. Um belo colchão de amortecimento contra crises mundiais, embora numa crise global profunda as coisas mudam em dias, em horas. Temos um confortável saldo na balança comercial que chegou, em 2023, ao recorde de US$ 98,8 bilhões. Ao subtrairmos os gastos internacionais com viagens, aluguel de equipamentos, transportes, remessa de lucros e pagamento de juros e outras transações correntes ficamos no vermelho em torno de 28 bilhões de dólares (2023). Isto é compensado com a entrada líquida de investimentos diretos acima de US$ 60 bilhões. Ou seja, o Brasil depende visceralmente da exportação de commodities e da atração de investimentos diretos. É preciso cuidar bem do ambiente que envolve estas duas variáveis.
Em relação às pessoas, o Brasil que recebeu de braços abertos italianos, japoneses, portugueses, sírios, judeus, libaneses, hoje é exportador de pessoas, principalmente jovens e brilhantes cérebros, infelizmente. Já são mais de 4 milhões de brasileiros morando no exterior.
Este é um breve raio X de nossas relações com um mundo globalizado. Não somos uma ilha. As turbulências e as ameaças presentes nos afetam. Não adiante dar de ombros e citar Drummond: “Mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução”. A economia brasileira depende sempre de soluções.
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