Dia desses, pela pena brilhante da respeitada BBC, li uma chocante matéria sobre a miséria que flagela este tão rico país. Trata-se de um texto merecedor de profunda reflexão – ao fim e ao cabo, admita-se como inevitável a pobreza de alguns ou mesmo de muitos. A miséria, porém, não. Esta é imperdoável.
Transcrevo, a seguir, algumas constatações e declarações colhidas pela reportagem. Inicio por uma relativa à fome, objeto de tantas referências na Constituição Federal. Nela descreve-se o “cardápio” diário de alguns semelhantes nossos: “Essa comida antes era destinada aos porcos, mas agora as pessoas selecionam e trazem para dentro de casa”.
É intrigante que brasileiros comam “lavagem” sobre o solo de um dos países mais ricos do mundo. De uma potência do agronegócio. De um verdadeiro celeiro da humanidade. De uma terra onde, nas palavras de Caminha, “em se plantando tudo dá”!
Mas sigamos em frente. Abordemos agora a questão da higiene pura e simples: “Não há saneamento básico, e apenas duas torneiras abastecem todas as famílias. Uma das moradoras contou que faz as necessidades fisiológicas em uma sacola, que é descartada na lagoa ou num descampado, hábito comum na região”.
Leia também
Eis, a propósito, o chocante depoimento de uma moradora: “Passamos semanas, até um mês, sem água, que não é limpa. É suja. Nós ficamos com dor de barriga e muita gente fica doente. Mas serve para a gente beber, cozinhar e tomar banho. Usamos baldes. Tem dia que um balde serve para cinco, seis pessoas tomarem banho”.
Por falar em doenças, abordemos agora o direito à saúde, constitucionalmente assegurado: “Aqui é a gente pela gente. Não tem médico, remédio, exame, nada. Eu mesmo já fui para uma Unidade de Pronto-Atendimento em cima de uma carroça”.
Diante de tão dantesco cenário peço licença para focar no saneamento básico. Alguém poderia dizer ser esta comunidade uma exceção. Não é: quase 35 milhões de brasileiros não tem acesso a água tratada e 47% da população não tem acesso a uma rede de esgoto (dados referentes a 2018). Para completar, perdemos uns 40% da água potável pelas redes de distribuição.
Recordo que nosso país é o grande manancial do mundo: possui 13,7% de toda a água doce e 20% das águas subterrâneas do planeta.
Que coisa feia, Brasil! Não tem dinheiro nem para comprar cano?
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário