Hegel, o famoso filósofo alemão, exclamou certa vez que “a única coisa que a história ensina é que ela não nos ensinou nada”. Eis aí uma frase que se encaixa como luva no Brasil de nossa geração, que insiste em permanecer exportador de riquezas naturais e importador de tecnologia.
Talvez devesse ser lembrado por todos nós o exemplo de D. João V, o rei português apontado como um dos responsáveis pelo desperdício do ouro carregado do Brasil – que chegou a 14 toneladas anuais. Segundo consta, no reinado dele o gasto em festas e supérfluos foi tamanho que mereceu até um versinho: “Ai, quanto veludo e seda, e quantos finos brocados! Ai, como está com seus cofres completamente arrasados”.
Foi assim que 60% do nosso ouro acabou com a Inglaterra, credora de Portugal, que o utilizou sabiamente para financiar as bases da futura Revolução Industrial e se desenvolver de forma sólida e consistente.
Ignorando esta lição, o Brasil segue firme em um extrativismo que já dura uns bons 500 anos. Nossas riquezas continuam a ser exportadas dia e noite, sob ritmo alucinante e a preço de banana, em troca de produtos os mais básicos. Isto não tem nos incomodado muito, dada a impressionante riqueza do nosso país. Porém, e eis aí algo muito sério, já dá para ver no horizonte o final da festa, cuja conta começará a ser paga pela próxima geração – foi o que extraí de uma chocante pesquisa divulgada já há algum tempo.
Leia também
Vamos começar pelo minério de ferro. Temos 7,1% das reservas mundiais, e somos o segundo maior produtor. Exportamos uma tonelada por R$ 181,47 e importamos, por exemplo, um quilo de chocolate suíço por R$ 280. Tudo isso seria suportável se o minério de ferro fosse uma riqueza renovável. Mas não é. Se o ritmo de extração se mantiver nos níveis atuais (e ele só tem aumentado), em 82 anos nossas reservas conhecidas estarão esgotadas.
Há também o níquel. Temos 6,7% das reservas mundiais, e somos o sétimo maior produtor. Porém, a continuarmos nesta tocada, em 116 anos passaremos a importadores. Somos também grandes exportadores de bauxita – o segundo do mundo, para ser exato. Nós podemos exportar tanta bauxita por termos a terceira maior reserva do planeta – que, no entanto, acabará em 159 anos, caso seja mantido o nível de exploração.
E o que dizer do chumbo? Temos a maior reserva do mundo, e somos o décimo primeiro produtor. Porém, a se manter o ritmo de extração, em 96 anos não o teremos mais. Mas pior ainda é o caso do nióbio, um metal valiosíssimo. Temos a maior reserva do planeta, e somos os maiores produtores – porém só durante mais 35 anos, quando estarão esgotadas nossas fontes.
Somos também grandes exportadores de estanho. Temos a terceira maior reserva do mundo, e somos o quinto maior produtor – mas por pouco tempo, já que em 80 anos também esta riqueza terá se esgotado. Não nos esqueçamos do ouro: temos a décima maior reserva, e somos o décimo quarto produtor mundial – mas por meros 43 anos, tempo previsto para o esgotamento das jazidas.
Finalmente, o Brasil também foi abençoado com a sexta maior reserva de diamantes do mundo, e atualmente é o nono maior produtor. Porém, no ritmo atual de extração, daqui a 123 anos também esta riqueza estará esgotada.
Fico a pensar no país que entregaremos para a geração seguinte. Abrimos mão de desenvolver um parque industrial próprio, desnacionalizamos nossas mais importantes empresas e estamos consumindo inebriadamente as maiores riquezas não-renováveis que a natureza nos ofereceu. Cuidado, Brasil! Como dizia Mistral, “o futuro das crianças é hoje. Amanhã já é tarde demais”.