Há algum tempo tive contato com uma entrevista do professor Marshall Rosenberg que tocou fundo em minha consciência. Rosenberg, criador da Comunicação Não Violenta, ou comunicação empática (como talvez ele preferisse), ao ser confrontado com a pergunta “como você consegue ter esperança num mundo em que tanta coisa ruim acontece?”, simplesmente respondeu: “eu vejo muita coisa boa acontecendo”. Em seguida passou a listar, de vários lugares do mundo, ações em que pessoas trabalhavam arduamente para melhorar a vida de outros.
Embora eu já houvesse contato com a ideia de que o mundo que vemos se deve em boa medida a como olhamos para ele, a forma serena e sem surpresa como o professor Rosenberg respondeu à questão mostrou como aquele pensar lhe ocorria naturalmente. Mais importante, sua crença manifestava-se em hábito, algo arraigado que ocorre sem esforço ou sofisticação de pensamento.
Bem, sempre que possível procuro recuperar a lição do professor Rosenberg na prática, o lugar mais importante de todos. Assim, trago para vocês uma experiência muito rica que tive há poucos dias.
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Entre 23 e 25 de setembro a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica promoveu a Semana Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, com o auspicioso chamamento de “um caminho para o futuro”. A Semana aconteceu em Brasília e contou com apresentações, em stands, de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia de todo o país. Cada um deles trouxe para o público um ou mais de seus projetos prediletos.
Dirigi-me à feira em boa parte movido por obrigações familiares. Minha esposa ajudava na equipe de apoio e também entendemos que seria uma boa oportunidade para apresentar o mundo da educação profissional e tecnológica aos nossos filhos, alunos do ensino médio.
Contudo, logo que ingressei no pavilhão dos Institutos uma curiosidade que carrego desde a infância se pôs em ação. Iniciei ouvindo – e também perguntando – a engajada explicação dos pesquisadores do Piauí (Instituto de Floriano) sobre os cursos que promoviam em agropecuária e especialmente em apicultura.
PublicidadeO Piauí, com suas extensões de terra ainda cobertas de cerrado e outras vegetações nativas, produz o “melhor mel do Brasil!”, segundo os apaixonados professores e coisa que não é de se desmentir. Falaram também da exploração de todos os outros produtos que as simpáticas voadoras laranjas e negras propiciam aos homens. Com marcada ênfase pontuaram um projeto inovador que pretende explorar o veneno de abelha. Sim, o veneno, uma das novas especiarias da cosmética moderna com preço muito acima do seu peso em ouro. Em síntese, dezenas de jovens piauienses formam-se todos os anos e bom número deles se engaja na vida profissional por meio dessa sustentável e rica atividade das abelhinhas.
Dois alunos e uma entusiasmada professora de Inconfidentes, Minas Gerais, explicaram-me seu projeto de “muvuca de sementes” e as ações de reflorestamento no município. A técnica barateia e facilita o plantio de espécies nativas e permite que os pequenos agricultores da região tanto cumpram a legislação ambiental, que é do seu interesse para não sofrerem punições e multas dos órgãos fiscalizadores, quanto de toda sociedade, que conta com mais e melhores serviços ambientais, como mais e melhor água, regulação do clima, proteção da biodiversidade etc. Além disso, a própria prefeitura de Inconfidentes, se eu entendi direitinho, vem estimulando o projeto ao prover renda aos proprietários rurais que se associam a ele.
Do Instituto de Mato Grosso, dois meninos – sim, é incrível como ainda tão jovens já se empolgam com coisa séria – mostraram-me orgulhosamente um projeto que usa tecnologias como GPS, altimetria e sensores ópticos e de temperatura para monitorar o comportamento de bovinos e assim permitir que raças mais eficientes possam ser introduzidas no estado.
Pude também aprender com os pesquisadores do Rio Grande do Norte sobre um curso de criação de peixes ornamentais que já havia atingido milhares de criadores gerando nova fonte de renda. Com os professores de Rondônia sobre um projeto que usa ferramentas de tecnologia para aproximar os serviços públicos das populações de Ariquemes e cidades vizinhas. E com os pesquisadores de São Paulo uma iniciativa inteligente de coleta de recicláveis que liga cooperativas e moradores por meio de aplicativos que permitem a roteirização e eficiência dos processos.
Havia ainda outras diversas iniciativas que não tive tempo para conhecer. O impacto em mim, contudo, foi enorme.
Em cada projeto brilhava o desejo de fazer a diferença para alunos e população atingida. Diagnósticos que parecem distantes como aquecimento global, poluição eletrônica, crise da democracia, desemprego ganharam diagnóstico claro e projetos de intervenção local efetiva.
Meus tempos de criança curiosa saíram revigorados da feira, assim como grato pela oportunidade de interagir com tanta gente engajada e interessante.
O professor Rosenberg tem muitos seguidores Brasil afora, sabedores de sua lição ou não, gente que vê o mundo como chance de melhorar a vida, de cuidar da sociedade, de educar jovens para o famoso protagonismo social. O pessoal da feira me ensinou que injeção de ânimo também é função da educação.
Parabéns a todos!
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