Nas proximidades do bicentenário da Independência do Brasil, diversos questionamentos e reflexões são feitas, a começar pela ideia de construção de uma nação que seja justa com o seu povo e soberana perante as demais nações do mundo. É impossível que essa ideia prospere sem investimentos na Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, pois tratam-se de indicadores de desenvolvimento e base de formação para as áreas da saúde, segurança, produção de alimentos, indústria, comercio e serviços, dentre várias outras.
Você já parou para pensar e refletir sobre como e onde aprendemos a ler e escrever? Foi na escola e com os professores? E quem ensinou a esses professores e de onde veio o conteúdo e o conhecimento aplicados no processo de ensino e aprendizagem deles? Certamente de outros professores e dos livros, não é verdade? Mas, de onde vieram os livros? E, foram escritos por quem? E de onde veio o conhecimento para construir as máquinas de imprimir livros? E como surgiram as tecnologias que criaram os livros digitais?
De onde veio a formação dos médicos, advogados, engenheiros, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, jornalistas e cientistas de todas as áreas de conhecimento? Que instituições formaram, prepararam e qualificaram todos esses profissionais? Foram as escolas e universidades?
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De onde veio o conhecimento para a produção de medicamentos e vacinas, perfuração de poços de petróleo e produção de combustíveis, para a fabricação de carros, liquidificadores, fogão, geladeira, televisão, rádio e celulares? E a geração de energia para fazer tudo isso funcionar, veio de onde?
Quando acendemos uma lâmpada, dirigimos um carro e passamos por cima de uma ponte construída sobre o mar, viajamos de ônibus, trem ou avião, não temos a ideia de quanto conhecimento foi produzido, acumulado e compartilhado pelos estudiosos e pesquisadores ao longo dos séculos para que tudo isso fosse possível. E como todo esse conhecimento foi produzido para depois ser ensinado pelos professores? A partir do apoio a pesquisas científicas que investigam, testam, erram e acertam, passam por críticas e sabatinas, se aperfeiçoam e descobrem novos caminhos para que a humanidade siga em seu desenvolvimento.
E qual é o destino do país que não investe em educação, ciência e tecnologia, pesquisa e inovação? Não é outro, se não o caminho do atraso e da dependência de outros países que investem maciçamente em todas essas áreas. É inadmissível que o Brasil conviva diariamente com a “fuga de cérebros” para outros países que incentivam, investem, apoiam e dão condições de estudo a essas pessoas que trabalham pelo desenvolvimento da civilização.
O Brasil joga dinheiro no lixo quando corta esses recursos para pesquisas e bolsas de estudos, descontinuando a formação dessas pessoas. Muitas delas se veem obrigadas a trabalhar em outras áreas que não tem nada a ver com a sua formação para tentar sobreviver, ou, desalentadas, acabam sem ânimo para sair de casa e permanecem dependentes de suas famílias. Diminuir o investimento nessas áreas é um mal que ataca a esperança dos jovens e adultos em suas idades mais produtivas.
Isso tem um preço alto a ser cobrado, e a consequência é o atraso do Brasil que perde para outros países grande parte dos nossos talentos e acaba pagando caro para comprar tecnologias desenvolvidas em solo estrangeiro. Aonde vamos chegar se continuarmos a exportar containers de bananas e melancias e importarmos containers de Iphones? Se somos capazes de fabricar e exportar aviões de alta qualidade, porque retroceder aos tempos de Colônia?
Há 78 anos, a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, trata dessas questões e agora em 2022, sendo realizada na Universidade de Brasília, trouxe como tema principal: “Ciência, Independência e Soberania Nacional”. E nesse contexto, cabe aqui uma última pergunta: como podemos comemorar 200 anos de “independência”, num país onde tantos cortes já foram feitos nessas áreas, e onde, há cerca de um ano, o orçamento das Forças Armadas quase ultrapassou o orçamento da Educação?
Estamos tratando de uma questão de soberania nacional, de áreas estratégicas para o desenvolvimento de qualquer país. Por isso é preciso, além de uma ampla conscientização da população a esse respeito, que as elites políticas e econômicas desse país cuidem de fato da Educação, pesquisa, inovação, ciência e tecnologia, protegendo-as como política de Estado; como uma blindagem contra o mau-humor de qualquer governo que não as tratem como prioridade.
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