Em 1992, o economista e marqueteiro James Carville criou o slogan “É a economia, estúpido!”. Reza a lenda que colou um cartaz com a frase na entrada do comitê de campanha de Bill Clinton, para que todos os integrantes do escritório da campanha concentrassem as atenções na questão econômica. E assim garantiu a vitória de Clinton contra a reeleição de Bush pai. A ideia era a de que os norte-americanos se preocupavam mesmo era com a crise econômica, a alta dos preços e as dificuldades para comprar imóveis do que, por exemplo, com o sucesso americano na Guerra do Golfo. Importante, na visão do marqueteiro, era Clinton bater na tecla da economia, tocar lá na carteira de dinheiro do cidadão, lá onde a ferida dói. E esquecer a obsessão com segurança e ampliação da zona de poder de influência norte-americana no planeta. Se a economia vai mal, de nada adianta ter sucesso em qualquer outra área. Deu certo.
Bem a seu estilo, Bolsonaro e os membros do seu governo fizeram uma adaptação cretina da frase de Carville. Em vez de economia, parecem ter escrito na entrada do Palácio do Planalto: “Não é a economia, é a nossa grana, estúpido!” E assim tem sido, basta avaliar qualquer ação do governo nesses três anos e pouco. A ideia é esquecer o bem-estar da população em qualquer área desde que se dê provimento à locupletagem geral, seja para o embolsamento direto de vultuosas quantias por meio de propinas e/ou vantagens, seja pela garantia de recursos à reeleição ou a destinação de recursos aos redutos eleitorais dos ocupantes de cargos estratégicos do governo, o que dá na mesma.
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Meio-ambiente? Diabéisso?
Ainda outro dia, Bolsonaro baixou um decreto permitindo a realização de obras em áreas de cavernas. Ora, por que cargas d’água um presidente, nesta altura do campeonato, se importaria com cavernas, assunto, que nunca ocupou as preocupações de nenhum antecessor, se não houvesse uma segunda intenção? O interesse é claro: beneficiar grupos empresariais interessados na exploração imobiliária em regiões onde o patrimônio cultural ou espeleológico representa obstáculos às suas pretensões. Pois…o que interessa é a grana, estúpido! Não foram poucas as vezes em que o próprio Bolsonaro afirmou que não se justificava que, na realização das escavações para uma obra, só porque aparecia “um caco de prato”, tinha de parar com tudo para preservar um eventual sítio arqueológico, trazendo prejuízos aos empreiteiros.
Na área ambiental, desde a era Salles, aquele contrabandista de madeira da Amazônia, até os dias de hoje, o governo não tem feito mais do que garantir o faturamento de madeireiros e mineradores inescrupulosos, com invasão de terras indígenas, entupindo os rios de mercúrio e promovendo a devastação em escala alarmante, num vale-tudo para garantir os ganhos de uns poucos privilegiados. Meio-ambiente? Diabéisso? O que interessa é a grana, estúpido!
Também recentemente, Bolsonaro deu solenemente as costas às dificuldades dos estratos mais carentes da população, que enfrentam fome e dificuldades crescentes, para garantir bilhões de reais aos candidatos, a serem gastos nas campanhas eleitorais de outubro próximo. Ou seja: pode até faltar dinheiro para o sagrado prato de comida de cada dia, mas não vai faltar bufunfa para torrar nas campanhas e garantir o retorno dos mesmos ao bem-bom de sempre. Pois o que interessa… é a grana, estúpido!
Desde o início da pandemia, quando os maiores especialistas do mundo insistiam no distanciamento, Bolsonaro promovia e continua promovendo aglomerações, sob o argumento de que a economia não pode parar. Porque, é óbvio, o que interessa é a grana, estúpido!
“O de cima sobe e o de baixo desce”
Na recente queda-de-braço entre o governo e as demais categorias de funcionários públicos não contemplados pelo reajuste garantido aos policiais militares e a Polícia Federal a lógica é a mesma: segurar o apoio dos que dão sustentação ao governo, para ajudar a reeleição e preservar as boquinhas. Quando Guedes e a tropa de Chicago-boys dão as costas ao interesse público e deixam destampado o caldeirão da inflação concorrendo para o crescimento alarmante das diferenças sociais, com o crescimento do patrimônio dos mais ricos e o empobrecimento dramático dos mais carentes (“o de cima sobe e o de baixo desce”, como diz a canção), fica bem claro: o que interessa é a grana, estúpido! A grana dos que têm muita grana e continuam a querer que ela não pare de crescer. E dane-se quem não tem, que vai ter cada vez menos, desde que se garanta o crescimento dos que têm mais. O que interessa é a grana, estúpido!
Pra que todo esse mi-mi-mi só porque uns milhares aí morreram?
Ainda estão frescos na memória coletiva os golpes dados pelo líder do governo na Câmara em comum acordo com servidores graduados do Ministério da Saúde para direcionar a certos grupos o direito de aquisição das vacinas anti-Covid. A CPI reuniu um conjunto de provas de que políticos aliados ao governo e servidores do ministério se beneficiavam de propinas enquanto o processo de aquisição das dores era retardado, elevando o número de mortes pela pandemia. Afinal, todo mundo vai morrer, não é mesmo? Então vamos parar de mi-mi-mi só porque alguns milhares de brasileiros morreram porque… o que interessa é a grana, estúpido! A grana!
Poderia continuar elencando dezenas, talvez centenas de ações do presidente e de seus auxiliares diretos ou apoiadores no Congresso ou fora dele, nas quais se destaca o desprezo pela vida e pelo interesse público em função de ganhos pecuniários diretos ou indiretos. Só pra concluir, vale lembrar a decisão do presidente da Câmara, Artur Lyra, de retomar as votações de forma remota. Até citou o crescimento do número de contaminados pela ômicron, um argumento elogiável. Mas logo em seguida se traiu e revelou, com todas as letras, que as passagens aéreas estão pela hora da morte e por isso não compensa manter votações presenciais. Ou seja: não há a menor intenção de prevenir e reduzir a contaminação. Pois o que interessa é a grana. É a grana, estúpido! A grana! A grana! A grana, entendeu? Ou quer que eu repita?
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