Datas, monumentos e heróis – da mesma forma que a cultura e tradições – exercem uma importante função na formação e manutenção do tecido social – afinal essa é uma das razões para o ensino da História nas escolas. Mas no mundo pós-moderno não apenas o ensino da História, mas a própria História vem se tornando alvo de suspeição. E o tecido social vem se transformando em um novelo de tênues fios esgarçados. Dia da Independência: o que você vai comemorar?
Num passado não tão distante no tempo – mas que já parece situar-se em outra Era – os livros de História utilizados nas escolas serviam, entre outras funções, para nos lembrar desses eventos, de seus heróis, traidores e vítimas presentes em todas as histórias e tradições. Por eles ficávamos sabendo das circunstâncias e dos circunstantes. Os brasileiros não mais serviriam à Coroa Portuguesa. Nossos impostos ficariam entre nós. O Brasil se tornaria dono de si mesmo. Rei morto, rei posto. Viva D. Pedro I!
No mundo pós-moderno, cheio de individualidades e direitos, mas quase vazio de consensos e deveres, o que poderiam e o que deveriam falar os livros didáticos a respeito do tema? Narrar os fatos sem dúvida seria uma contribuição relevante – como sempre o fizeram com maior ou menor precisão. Organizar a explicação – buscando, com base em documentos, motivações e causas para o acontecimento: políticas, econômicas, sociais, culturais. Doce ilusão! Não se faz mais passado como antigamente.
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Entre os estudiosos do tema há os que atribuem as nossas indefensáveis desigualdades – econômicas, regionais, sociais, raciais – à falta de uma revolução. Ou talvez de várias, tamanhas são essas desigualdades e grupos marginalizados. Será? Os Estados Unidos saíram de sua guerra da Independência para se libertar do jugo da Coroa Britânica em 1776. Mas logo depois se envolveu numa fratricida guerra entre os estados do Norte e Sul da recém-nascida Confederação. Essa segunda guerra resultou na abolição da escravidão – mas não do preconceito nem das desigualdades sociais. A Revolução Francesa – conflagrada em nome das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade foi logo corrompida. A liberdade logo volta a ser cerceada e Napoleão se transforma em Imperador – tão ou mais absolutista do que seus antecessores. E em breve a França iria se tornar uma das mais atuantes potências colonizadoras até meados do século XX. Revoluções, por si só, nem sempre produzem os efeitos desejados pelos seus protagonistas.
O Brasil atravessa um momento difícil de sua História. Até mesmo a independência dos poderes que constituem a nossa República se encontra a cada dia menos garantida – cada “Poder” querendo aumentar a sua influência e ingerência sobre a seara alheia e sobre o bolso, o voto e a mente dos cidadãos. Nossos antepassados lutaram para nos libertar do jugo de Portugal – especialmente na forma de impostos. Hoje, quase todos brasileiros se veem privados de liberdades fundamentais – uns pela premência da fome ou do desemprego, outros pelo jugo da violência, outros pela falta de verdadeiras escolhas políticas, alguns até mesmo privados ou constrangidos em sua liberdade de expressão – que ao fim e ao cabo restringe a liberdade de todos.
Portugal tem uma história curiosa. Sua independência em 1649 se deu pelo esgotamento dos recursos da dinastia filipina – o que havia sobrado do reino de Isabel e Felipe. Esse ano também marca o fim do domínio espanhol sobre o Brasil. Mas a data nacional de Portugal ou o “Dia de Portugal” se comemora em 10 de junho. Nesse dia Portugal celebra dois padroeiros. Um deles é Camões – que dispensa apresentação. O outro… é o Anjo da Guarda! É desse que tanto precisamos!
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