Como colunista do Congresso em Foco, não poderia deixar de comentar o texto publicado pelo deputado Ronaldo Caiado, aqui mesmo no site, no último dia 6, em que ele comenta sua atitude de me levar à Justiça por causa deste vídeo.
Como você, leitor, já deve saber, o nobre deputado pede uma retratação pelo vídeo que fiz, no qual cito seu nome apenas como exemplo, com a finalidade de ensinar aos meus seguidores no Youtube e Facebook como identificar empresas doadoras de campanha que são, tão logo o político é eleito, contratadas por este.
Em seu texto ele diz que se sentiu ofendido por eu ter dito que a atitude de contratar empresas doadoras de campanha é imoral, mas eu não encontro outra palavra que possa se referir a esta decisão. Ele afirma que conseguiu um preço “ótimo” para a locação da Amarok (R$ 7.500,00 mensais) e ainda me desafia a encontrar preço menor.
Não é preciso ir muito longe para conseguir carros mais caros e luxuosos (totalmente dispensáveis para o uso a que se destina). O senador Paulo Bauer, por exemplo, que deixou de pagar o aluguel de uma Mohave (veículo top da montadora KIA) com o dinheiro público da CEAP após eu ter divulgado o seu caso em vídeo, pagou por mais de um ano o valor mensal de R$ 6.655,00 por um veículo quase duas vezes e meia mais caro que o escolhido pelo deputado Caiado. E observe que eu escolhi o modelo mais barato da KIA e o mais caro da Volkswagen para fazer a comparação. Veja as tabelas abaixo:
Leia também
Publicidade
À direita, o veículo Amarok (locado pelo deputado) custa, segundo a tabela FIPE, R$ 87.883,00. À esquerda, o veículo Mohave (locado pelo senador) custa, segundo a mesma tabela, R$ 210.850,00.
Em termos percentuais, o deputado goiano está pagando com dinheiro público quase 9% do valor do veículo por mês, enquanto o senador pagava pouco mais de 3%. Com as novas regras estabelecidas pela Câmara – diga-se de passagem, regras alteradas depois que fiz as denúncias da farra dos alugueis de veículos e que foi ostensivamente publicada pelo Congresso em Foco –, o novo teto para a locação de veículos não poderá ultrapassar a 5% do valor de mercado do veículo. As novas regras passarão a vigorar a partir das despesas apresentadas em fevereiro deste ano.
Ele diz ainda, em seu texto, que recorreu à Justiça para preservar “a sua honra e imagem” de um homem público com mais de 19 anos de história. Primeiramente ressalta-se que a atitude imoral dita em vídeo está distante alguns anos-luz de ser uma injúria, difamação ou calúnia, como tenta demonstrar. A imoralidade do ato está na escolha da empresa do amigo e que, se perguntado em pesquisa com a população brasileira, a maioria esmagadora também considerará imoral. Depois, ter 19 anos de vida pública não é necessariamente um feito que o torna blindado contra as mazelas percebidas pela classe a que faz parte. Alguns com muito mais tempo de vida pública estão, neste exato momento, encarcerados na Papuda.
O deputado ainda se vangloria ao relatar que um vlogueiro confirmou que o aluguel do veículo Amarok pelo deputado está R$ 100 mil mais barato ao ano que se fosse locado em outra empresa. Entretanto, o vlogueiro cometeu um terrível erro ao comparar a locação da Amarok com a de um carro similar na mais cara locadora do país e ainda, uma locação diária e não um contrato mensal como firmado entre o deputado e a Govesa. Este vlogueiro inclusive se retratou em mensagem direcionada a mim. “Como eu falei, fiz uma pesquisa rápida. Com contrato mensal poderia sim diminuir em muito o valor. Você tem razão…”
Eu, como cidadão brasileiro, pagador de impostos, tenho o direito e o dever de cobrar explicações dos políticos sobre os gastos com o dinheiro público e mais, como um cidadão livre, que sou posso dizer que é imoral a contrapartida encontrada em inúmeros casos como este relatado por mim em vídeo. A partir do momento em que se escolhe uma locadora de veículos apenas por esta pertencer a um amigo e que pelo serviço de locação ser utilizado dinheiro público para o pagamento, ainda que o valor esteja dentro do razoável, na visão de qualquer ser pensante e politicamente esclarecido, o ato é imoral, pois não foi dada a oportunidade para que outras empresas pudessem concorrer, além de demonstrar o favorecimento a benévola empresa. E, como mostrei acima, não será difícil encontrar locadoras que praticam preços mais competitivos, até porque, por questões de segurança, não vou mostrar os orçamentos que tenho e que jogam por água abaixo o desafio feito pelo deputado, pois tais documentos serão apresentados na Justiça no momento oportuno e disponibilizados para os leitores do Congresso em Foco tão logo seja seguro.
O ato de utilizar dinheiro público requer muito mais critérios do que aqueles que adotamos em nossa vida enquanto indivíduos.
Infelizmente, nós, povo brasileiro, dependemos dos políticos para que leis mais duras sejam criadas e que casos como o praticado pelo presidenciável Ronaldo Caiado não ocorram mais. As leis por eles criadas os beneficiam de tal maneira que situações como esta devem ser questionadas na Justiça. Aliás, o STF está julgando uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) impetrada pela OAB que questiona a legalidade da doação de campanha por empresas privadas. Até agora o “placar” está 4×0 em favor da ADIN, o que significa que pelo menos um terço dos ministros do Supremo não considera legal este ato. A razão é muito simples. A contrapartida verificada nestas situações quase sempre é perceptível e isto fere a impessoalidade da ação.
Os políticos devem entender que uma vez eleitos deverão sempre dar explicações à sociedade por todas as ações tomadas. Infelizmente, o deputado Caiado prefere me questionar na Justiça a ir a público explicar o motivo de ter escolhido a empresa do amigo para locar um veículo caro como uma Amarok.
Como muitos sabem, inclusive o nobre deputado, sou o fundador e coordenador da O.P.S. (Operação Política Supervisionada) que já denunciou no Tribunal de Contas da União (TCU) 20 parlamentares por possíveis atos de corrupção. Neste momento, estamos levantando mais 20 nomes que serão novamente denunciados no TCU e também no Ministério Público Federal. Muitos políticos estão descontentes com o trabalho da O.P.S. e eu não me surpreenderia que a ação tomada pelo Dr. Ronaldo Caiado seja, na verdade, uma maneira de tentar me intimidar e assim comprometer todo o trabalho da operação que vem obtendo sucesso em todas as suas ações.
Eu, sujeito simples e ciente dos meus direitos, posso achar que a retratação diante da Justiça exigida pelo parlamentar é, na verdade, uma censura moderna, onde os censores de outrora são substituídos por ações pontuais e corretas perante a lei, mas que são, em suas essências, mordaças que tentam me calar e calar aqueles que usam as redes sociais para denunciar, cobrar e expor suas ideias.
Para a tristeza de alguns e felicidade de milhares, eu não pretendo me calar e muito menos extinguir a O.P.S.
Nota da redação: Convidado a se manifestar novamente, o deputado Ronaldo Caiado convida Lúcio Big para um debate na internet sobre temas relacionados ao exercício parlamentar no Brasil – do financiamento de campanha aos gastos com as atividades de um congressista.
Leia a coluna em Lúcio Big acusa Caiado de promover censura branca.
Veja a resposta do deputado: Democracia é falar o que pensa, mas responder pelos abusos