No artigo da semana anterior, abordamos estratégias para lidar com os danos causados pela pandemia. Hoje tratamos dos desafios relacionados ao futuro. O foco é contribuir para uma agenda de debates para os candidatos a governos estaduais e à Presidência. Afinal, a prioridade é economia e emprego – e capital humano tem tudo a ver com isso.
Comecemos pelos desafios. A competição aumenta. A competitividade dos países que estão à nossa frente possivelmente também está aumentando, pois muitos deles investiram e aprenderam muito mais do que nós durante esse período de pandemia.
Tratemos aqui de um desafio específico: os requisitos da nova economia sobre a educação e o sistema de formação de pessoas para o mundo do trabalho.
Os requisitos da nova economia estão dados – estamos marchando para uma economia cada vez mais dependente de tecnologia física e competência tecnológica para programar e lidar com as tecnologias físicas e suas implicações.
Desde a 1ª. Revolução Industrial, ocupações surgem e desaparecem, a novidade não está aí. A novidade está na velocidade e, em modesta proporção, nas exigências para qualificação de pessoal.
O futuro dos empregos pouco qualificados é cada vez mais desafiador: serão muitos, desinteressantes e possivelmente continuarão a ser mal remunerados. Vão exigir qualidades pessoais que sempre foram fundamentais, como perseverança, paciência, pontualidade, atenção e alguma capacidade de interagir com as tecnologias. A pinguela que distanciava os “White” e “blue colar” possivelmente vai se transformar em abismo.
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O futuro dos empregos qualificados exigirá maiores habilidades interpessoais, mas sobretudo maior capacidade de mudança e atualização. Nada que uma boa formação básica não resolva. Do ponto de vista de política pública, isso exige uma revolução na regulamentação das profissões, salários mínimos profissionais e da política de ensino superior. Já passou da hora de o Brasil cuidar dessas questões – quem sabe a perspectiva de entrar na OCDE vai colocá-las na agenda?
Para os dois grupos, há dois desafios gigantescos que são responsabilidades compartilhadas dos indivíduos, famílias e do setor educacional. O primeiro tem a ver com o contrato social que está se desfazendo.
Para quem contempla os 4 mil anos de história, isso não deve ser novidade –civilizações aparecem e desaparecem, mas a vida continua. O duro é a transição, especialmente quando as expectativas e valores mais triviais e essenciais para a sobrevivência e a interação precisam ser negociadas no varejo.
O segundo tem a ver com a definição da função da escola, o que chamamos acima de “formação básica”. Em todas as épocas, desde que temos “história”, a família, a escola e a comunidade sempre tiveram a dupla missão de transmitir a cultura dos antepassados e preparar os indivíduos para levá-la adiante – o que inclui o direito de mudar. Nada é permanente. Mas para exercer esse direito, há pré-condições.
O uso da razão, a racionalidade, a capacidade de pensar e refletir – junto com as crenças e valores de cada cultura e momento – sempre foram um tesouro transmitido aos herdeiros. Para isso, é preciso acertar a mão no que é essencial: a escola ensinar. Até evidência em contrário, ensinar a pensar e a usar instrumentos da linguagem, da matemática e do raciocínio científico parecem continuar sendo os candidatos mais fortes.
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