O filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre, representante maior do Existencialismo, dizia que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Segundo ele, “estamos condenados a ser livres, de existirmos para além de nossa essência”.
É nesse contexto de percepção existencial de que “não temos a liberdade de querer deixar de ser livres” que hoje identifico a tarefa dos agentes públicos e privados como a missão irrefutável de que precisamos fazer o mundo
melhor, seja para nosso próprio usufruto mas, principalmente, como compromisso para as gerações futuras.
Assim, como a escola francesa do Existencialismo, compartilho, doutrinariamente, da crença contida no pensamento filosófico de que precisamos atuar, não apenas como ser pensante, mas como sujeito humano, com as ações, sentimentos e a vivência de agentes ativos de construção do processo histórico.
Se no existencialismo o ponto de partida do indivíduo é caracterizado pelo que se denomina de “atitude existencial”, na ambiência coletiva, da humanidade, do espaço púbico, estamos precisando ir além do pensar, do imaginar, do querer individual.
Estamos sendo desafiados a construir, com ações concretas, os projetos e a evolução existencial de um mundo mais solidário, fraterno e igualitário.
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O drama da pandemia dos últimos dois anos revelou, em letras garrafais, a abissal disparidade social que o mundo acumula, que o nosso País patrocina e que está a nos desafiar a pensar modelos alternativos, pautados na solidariedade e repartição da riqueza de forma mais justa.
E como chegar até lá ?
PublicidadeJá é de conhecimento geral, a excelência da educação pública do meu Estado, o Ceará. Só pra enunciar de forma inequívoca, lembro que das 100 melhores escolas públicas do Brasil, 79 estão encravadas em solo cearense.
E agora, na última semana, quando saiu o resultado de mais uma seleção para o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), a autoestima e o orgulho cearense mais uma vez afloraram, quando se confirmou a supremacia cearense na ocupação das vagas no vestibular do ITA: das 150 vagas oferecidas, 61 resultaram destinadas a alunos do Ceará, ou seja 41% dos aprovados saíram de bancos escolares cearenses. E o resultado de 2022 não é aleatório, apenas confirma um quadro recorrente de aprovações dos últimos anos.
E podem acreditar: esse expressivo número de cearenses entre os aprovados não se prende a um bairrismo extemporâneo pelo fato do ITA ter sido criado por um visionário cearense chamado Casimiro Montenegro Filho que, além do ITA, também criou o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, instituições que foram o embrião da Embraer, e o Correio Aéreo Nacional. Na verdade, e aqui ingresso no fulcro desse artigo, essa abordagem é para tentar justificar que na nossa missão para tornar o mundo melhor ou simplesmente para combater as
desigualdades no planeta, nós precisamos ter foco, buscar definir com clareza e método, nossos objetivos. O Ceará, já provou, tem escolas que buscam essa excelência. No âmbito público e privado, como os resultados atestam. Repito: 79% das melhores escolas públicas do País estão no Ceará e, daqui, saem, em média, 40, 45% dos aprovados em um dos mais difíceis testes vestibulares do Brasil.
E o que está faltando para o Brasil ter foco, melhorar nas condições gerais de sua gente?
Arrisco-me a dizer que não temos, hoje e há muito tempo, um projeto de nação. Estamos destituídos de um projeto nacional que trabalhe as adversidades gerais e as disparidades especificas inter e intrarregionais. Não nos atemos a uma primária necessidade de gerar capital humano a partir da criação de estruturas que estabeleçam condições de igualdade entre os que podem ajudar na construção de um País melhor para todos.
E como isso se dá?
Veja que o Ceará conseguiu nos últimos anos, e não vou citar a reprisada evolução dos chamados tigres asiáticos, a maior e mais evidente escala de crescimento nos índices de qualidade da educação em seu nível fundamental. Num ranking liderado por um município cearense, no caso Sobral, o Ceará tem dez entre os vinte melhores municípios brasileiros nos índices de educação. Isso, apesar de ter o quinto menor PIB do Brasil. É ou não ter foco, ter compromisso claro e decisão política de construir condições objetivas para mudança de horizonte e perspectivas, principalmente para os que mais dependem dos investimentos públicos em áreas vitais, como a educação?
Como disse no início deste texto, “não temos a liberdade de querer deixar de ser livres”, nós não temos o direito de não existirmos para além de nossa essência.
Assim, precisamos buscar fazer o melhor em todos os nossos atos, na busca pela excelência que, a meu juízo, é o mais evidente ato de inteligência. Claro que o exercício primeiro é identificar nossas vocações como povo, qual a missão que nos cabe e como agir para a sua consecução!!!