Para quem achava que as presidências de Arthur Lira na Câmara dos Deputados e Rodrigo Pacheco no Senado Federal seriam um casamento fraterno com Jair Bolsonaro se surpreendeu com as ações de ambos parlamentares na última semana.
A primeira surpresa veio quando o presidente da República, contrariando todas as expectativas, indicou para o Ministério da Saúde um nome sem alinhar com os partidos do Centrão. A pasta é tradicionalmente disputada na história política brasileira. O desejo dos partidos por ela vem do seu grande orçamento e da sua capilaridade, sua capacidade de levar políticas até os rincões do Brasil profundo. Quando Bolsonaro inaugurou a nova fase de seu governo, em que passou a dividir o poder com os partidos de centro, ao bom e velho modo do presidencialismo de coalizão, muitos analistas políticos apostaram quanto tempo levaria para que o presidente tirasse a pasta da ala militar e a transferisse para um nome alinhado ao Centrão.
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Em vez disso, Bolsonaro surpreendeu a todos e fez uma nomeação independente, indicando para novo ministro da Saúde o médico Marcelo Queiroga. Não era o que o Centrão desejava, nem o que esperava. A nomeação de alguém indicado pelo Centrão traria fluidez à coalizão de partidos e isso não aconteceu. O recado de Lira foi imediato: disse que o governo não tem mais espaços para erros e ameaçou com remédios amargos do parlamento.
Lira não fala sozinho. Ele reverbera o descontentamento de um grupo político que não só está frustrado com a indicação ministerial como também não quer estar vinculado às desventuras na saúde e na economia. Não quer pagar a conta de políticas mal sucedidas e prefere ver de longe se o navio afundar.
De fato, Lira e Pacheco estão assumindo uma liderança na articulação com os governadores para a gestão da vacinação e mantêm diálogos com China e EUA para negociarem envios de vacinas. Estão ocupando outros espaços, insatisfeitos com aquele que esperavam e não tiveram.
Além da Saúde, outras pastas estão na mira do Centrão e os respectivos ministros já são alvos de críticas. Há pouco o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, recebeu reprimendas de senadores pelas críticas feitas à senadora Kátia Abreu. O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, é acusado atuar contra o meio-ambiente e com isso afugentar investidores do Brasil. As críticas seguem com Milton Ribeiro, da Educação, Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura. Nesse caso, quem desdenha é porque quer comprar. No caso, as pastas. Isso é reflexo de uma reforma ministerial que já estava encomendada. Agora o Centrão está passando a fatura.
A coalizão de governo já dá sinais de fragilidade. O novo ministro da Saúde assume o comando no auge da pandemia e da pressão. Com a intolerância do Congresso a ações mal sucedidas, o Governo precisa mostrar resultados efetivos. É acertar ou fim de jogo. Talvez Bolsonaro tenha pedido all in e só depois percebeu isso.
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