A sociedade brasileira se cansou daquela estória do Brasil ser o país do futuro, já que há décadas tropeçamos em crises variadas e permanentes que nos brindam com um “voo de galinha” na economia e um passivo enorme e inaceitável no campo social.
A geração da redemocratização tinhas objetivos ousados e generosos. A agenda democrática dos anos de 1970 – anistia ampla e geral, constituinte livre e soberana e eleições diretas para presidente – carregava uma utopia muito maior. Não só a conquista das liberdades democráticas, dos direitos individuais, mas a construção da cidadania substantiva para todos a partir da consolidação dos direitos mínimos à renda, ao emprego, à segurança alimentar, à saúde e educação de qualidade, à habitação e ao saneamento. Este é o espírito da “Constituição Cidadã” de 1988.
Fomos vitoriosos na conquista da democracia, ao derrotar a inflação e na modernização parcial da economia. Conquistamos um sistema público de saúde de acesso universal e cobertura integral, que tropeça aqui e ali, mas avança. Universalizamos o ensino fundamental. Iniciamos a construção de uma rede de proteção social. Mas a trajetória sonhada ainda está inconclusa.
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Como comemorar se ainda temos miséria e fome, metade da população sem saneamento, condições inadequadas de moradia, desemprego alarmante, educação com níveis de qualidade visivelmente insuficientes, desindustrialização, êxodo de cérebros jovens, baixa capacidade de inovação e uma grave crise fiscal permanente que inibe a ação necessária das políticas públicas?
A Nova República se caracterizou, fora a passagem meteórica de Collor, pela polarização entre PSDB e PT. Outros atores, como PMDB e PFL, foram importantes. A eleição de 2018 foi disruptiva. Decretou o fim deste ciclo político. O tsunami da “nova política” contra a suposta “velha política”, ancorado na frustração com o mensalão, a Lava Jato, a recessão a partir de 2014 e a crise do impeachment de Dilma, implodiu as bases de do presidencialismo de coalizão reinante. Com a experiência concreta nos governos federal e estaduais, a “nova política” mostrou que não era tão nova e decepcionou.
Olhando para o futuro próximo, ou seja, para as eleições de 2022, poderemos ter um embate entre o passado e o presente. Ainda é possível que surja um nome que fale em nome do futuro.
O grande escritor paraibano-pernambucano Ariano Suassuna sempre dizia que o pessimista é um chato, o otimista um ingênuo, e que ele era um realista esperançoso. Nesta ótica, e olhando para além de 2022, é possível ser um realista esperançoso. Há uma nova geração de lideranças políticas, com energia e consciência dos novos tempos, surgindo. Independente de orientação política e ideológica podemos citar Eduardo Leite, Eduardo Paes, Marcelo Freixo, Rodrigo Garcia, Boulos, Dória, Fernando Haddad, ACM Netto, Rui Costa, Ratinho Jr, Rodrigo Pacheco, Zema, Kalil, João Campos, Camilo Santos, Simone Tebet, as lideranças emergentes do bolsonarismo e outros jovens governadores.
O Brasil tem pressa. Oxalá, 2022 já abra as portas para o futuro. Mas se o parto do verdadeiro novo não ocorrer já, que abramos espaço para que esta nova geração possa finalmente concluir a longa e sofrida transição e materializar de forma mais acabada os sonhos de Ulysses, Tancredo e dos Constituintes.
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