Saber perder, aceitar a derrota com resiliência, respeito e responsabilidade, não é para qualquer um. Mas, há que se pontuar que, uma coisa é um perdedor em um jogo de dominó, numa mesa de bar, não aceitar a derrota e “virar a mesa”. Outra coisa é a – ainda – autoridade política máxima do país silenciar de uma maneira a dar margem a uma parte da população se sentir autorizada a promover questionamentos e não-aceitação do resultado das urnas.
Pior ainda, depois de um silêncio fúnebre e depressivo, ou por que não dizer, frio e calculista, vir a público e não reconhecer o resultado, mesmo diante de um caos instalado no país. Sim, foi instaurada a comissão de transição para o cumprimento da lei, mas, não houve o explícito, protocolar e importante reconhecimento, que poderia, se houvesse grandeza desse líder político, colaborar com o início da pacificação do país.
O silêncio premeditado endossou e animou conspirações e atitudes práticas contra a própria democracia que têm perdurado há quase duas semanas pós-eleição, embora tenham diminuído. E, aqui, uma palavra de alerta à importância da não naturalização dessas manifestações, que o são, por sua natureza, forma e conteúdo, manifestações criminosas.
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Por mais que pareçam, em alguns momentos a ensejarem um distúrbio ou esquizofrenia coletiva, que remetem a uma doença social, um estado de delírio coletivo, são, repito, criminosas. Pois atentam contra o Estado Democrático de Direito, contra a Constituição, contra as Leis e a Justiça Eleitoral, contra a vontade da maioria nas urnas.
A situação é tão grave que transpõe a falta de educação e o péssimo exemplo que deixam de herança às novas gerações. É vergonhoso ver eleitos por diversos partidos, inclusive pelo PL, partido do ainda presidente, se posicionarem em favor de um golpismo oportunista e alucinante, como no caso do deputado federal “general Girão” reeleito pelo RN e do próprio vice-presidente da República, “general Mourão”, agora eleito senador. É ridículo observar o comportamento de zumbis que vivem em uma realidade paralela e se imaginam combatendo as fantasias do Brasil virar uma Venezuela e os falsos fantasmas do comunismo.
É repugnante ver alguns pastores e padres perseguirem os fiéis, corromperem os altares sagrados e expulsarem o próprio Cristo das igrejas, colocando em lugar de veneração o ainda presidente da República, que tem ocupado espaços, em muitos templos do Brasil, mais do que o próprio Deus. É horrendo esse comportamento fascista, de perseguir e incitar a perseguição aos adversários políticos individual ou coletivamente, nos estabelecimentos comerciais, nas associações, ou templos religiosos.
A História nos mostra que a interseção das fronteiras entre Estado e Religião é danosa à humanidade e se configura como ingrediente em uma receita de fundamentalismos extremistas, como se observa em vários exemplos no mundo. Igualmente, é perigosa a mistura e envolvimento direto de parcela de policiais, sejam eles estaduais ou federais e de membros das Forças Armadas com a política, em detrimento de suas funções de Estado.
Claramente, há nesse meio os que entenderam a gravidade do que representou a eleição deste governo que está chegando ao fim, especialmente depois dessa histeria coletiva, assim como há os completamente alienados, muitas vezes embriagados pelas fake-news, além dos bobos da corte que se deixam utilizar como massa de manobra.
E há, talvez, a pior espécie dentre os que compõem as manifestações antidemocráticas: aqueles que sabem exatamente o que estão fazendo, participam e até financiam o golpismo para tentar se beneficiar criando dificuldades para vender facilidades.
Vale destacar ainda, que toda a articulação passa pelas empresas privadas de comunicação, que são extrangeiras e como tais têm seus próprios interesses: as empresas de redes e mídias sociais, que servem de plataforma a esse estado de devaneios e atentados contra a democracia, não só no caso do Brasil, mas, em várias partes do mundo onde a extrema-direita tem tentado, alcançado, ou alcançado e perdido o poder.
De fato, as urnas partiram o Brasil quase exatamente ao meio. Mas, nem tudo são trevas, como nem todos os 49% que votaram no candidato derrotado compactuam ou apoiam tais atitudes que acabamos de enumerar. Uma parte, na verdade, nem é formada por bolsonaristas, mas, por antipetistas e mesmo assim aceitaram o resultado; outros tantos, ficaram silentes ou arrependidos por ver a queda das máscaras e os comportamentos de ataque à democracia.
Esperamos que depois do golpe de misericórdia dado pelo relatório final das Forças Armadas, que jamais deveriam ter participado do pleito eleitoral, pois nada têm a ver com suas funções de Estado, quaisquer suspeitas estúpidas e conspiracionistas que ainda desejem questionar o pleito para alimentar a baderna antidemocrática, sejam sepultadas, sob pena de responsabilização dos CPF’s e CNPJ’s envolvidos, como manda a lei.
Finalmente, há que se ter muito cuidado com o “terceiro turno” que tentam instalar no país, o que cria muitas dificuldades para se trabalhar a união do povo brasileiro. Não temos a ilusão de que essa será uma tarefa fácil ou mesmo que será exequível, mas, mantidas essas radicalizações baseadas em fantasias ideológicas, ficará complicado voltar a discutir com seriedade o Brasil e seus problemas reais, como a fome, a miséria, a educação, a saúde, a geração de energia, criação de empregos e a infraestrutura, dentre tantas outras questões urgentes. O tempo é curto e não podemos permitir que a irresponsabilidade de um derrotado e de seus seguidores acéfalos continue a prejudicar o Brasil.
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