Em momentos de crise, dias valem semanas. A montanha russa da história reveza altos e baixos. As especulações crescem, o horizonte fica nebuloso, as posições se radicalizam, a conspiração ganha corpo, temores afloram, enfim, cada dia é carregado de adrenalina.
Há vinte e um dias, a semana se iniciava com a nova prisão de José Dirceu. No mesmo dia, Dilma tentou acertar os ponteiros com os líderes de sua base e mostrar que retomara o leme. Terça e quarta seguintes, a base derrota o Governo no Plenário. Um jantar de senadores prenunciava um desfecho rápido para a crise, com o possível afastamento da presidente. O vice-presidente solta uma frase ambígua: “o Brasil precisa de alguém que una o país”. Nas entrelinhas, Dilma não une. As notícias da economia crescentemente ruins temperam o ambiente conturbado.
Há quinze dias, a semana começa com a reversão de expectativas. O presidente do Senado dá um passo atrás, joga seu próprio jogo, deixa parte do PMDB a ver navios e se transforma no grande fiador de Dilma, propagandeando uma suposta Agenda Brasil – uma coleção de projetos dispersos, reunidos de afogadilho, para preencher o vácuo de liderança do Governo. As mulheres do campo, organizadas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e patrocinadas pela Caixa, pelo BNDES e por Itaipu, realizam uma mobilização “espontânea” de apoio a Dilma. O presidente da CUT faz bravata em pleno Palácio do Planalto ao convocar as massas a irem às ruas com armas defender Dilma. Teve que se retratar. Setores empresariais e parcela da grande imprensa, com medo da turbulência excessiva, pedem a união de todos.
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Vem o 16 de agosto. Um milhão e meio de brasileiros vão às ruas dizer basta, chega de tanta mentira e corrupção, confirmando os dados das pesquisas que registram uma rejeição recorde de Dilma, maior inclusive que a de Collor. Os líderes oposicionistas vão às ruas. O sereno e experiente ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pede um gesto de grandeza com a renúncia de Dilma. A Procuradoria Geral da República prepara denúncia ao Supremo, a partir da Lava Jato, que, dizem as más línguas, envolverá como réus quase 100 congressistas, inclusive os dois presidentes das duas casas legislativas. Mas o epicentro da crise não é o Congresso, é o Governo e a corrupção institucionalizada em escala nunca vista. O ajuste fiscal é finalizado e sai muito aquém do necessário e no rumo errado. O dólar dispara, as agências de classificação de risco rebaixam o Brasil, a taxa de juros sobe e as projeções de crescimento para 2015 e 2016 caem.
Fato é que o Governo Dilma não tem mais condições de liderar o país, de soluço em soluço, de crise em crise, por mais três anos e meio. A mudança é necessária. A população a quer. Mas o leito e a bússola são a Constituição. Seja por renúncia, cassação ou impeachment, precisamos de um novo governo, forte, com iniciativa e capacidade de ação. Como disse Deng Xiaoping: “Não interessa a cor do gato, se matar o rato”. Com a palavra, as instituições.
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