No Brasil, cada ano parece uma eternidade. Como disse o ex-ministro Pedro Malan, em nosso país “o futuro é duvidoso e até o passado, imprevisível”. E o presente? É cheio de nuvens carregadas. A pandemia e a crise econômica não dão o menor sinal de arrefecimento.
Há fatalidades e há erros cometidos. Ninguém poderia prever o inesperado ataque do coronavírus. Mas era possível não mergulhar no negacionismo, não apostar em falsas soluções, mobilizar a sociedade para a prevenção, apostar na convergência, preparar rápida ação de imunização, terreno em que o Brasil tem larga experiência. Outra enorme perda de tempo e oportunidades foi a falsa polêmica entre vidas e empregos, saúde versus economia. As duas crises são irmãs gêmeas, faces da mesma moeda. Só haverá retomada econômica com a ampla vacinação da população.
Os desafios para 2021 são enormes: comprar tardiamente insumos farmacêuticos e vacinas num mercado mundial distorcido; vacinar a maioria da população, o que parece que só será possível até o final do ano; oferecer auxílio emergencial aos milhões de desempregados, desalentados e subempregados, e estímulo econômico a milhares de empresas que se encontram à beira do abismo, num quadro de total penúria fiscal e risco de perda do controle sobre a estabilidade econômica.
Se não bastasse isto, a dinâmica política continua elevando a temperatura ao máximo. Cogitações de impeachment começam a surgir, ainda que não haja maioria parlamentar, povo na rua e consenso suficiente sobre este caminho . O “escândalo do leite condensado” levou o presidente a abandonar toda e qualquer liturgia do cargo e agredir a imprensa e as oposições. Os choques entre o governo federal e estados abalam a solidariedade federativa. Enfim, doses adicionais de agonia num quadro já dramático por suas determinantes objetivas. Tudo se assemelha, às vezes, à uma combinação macabra entre filme de terror, teatro do absurdo e o seriado dos três patetas.
A eleição de 2022 é discussão futurista, distante e precipitada. A agonia palpável da semana é a sucessão no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. É fundamental que sejam reafirmados o protagonismo, a autonomia e a independência do Congresso Nacional, fortalecendo seu papel de freio e contrapeso na defesa da democracia e das instituições republicanas.
No Senado Federal, parece que não teremos surpresa, será eleito o senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM), de vasta cultura jurídica, comprometido com a Constituição e as Leis, pessoa serena e equilibrada, que certamente saberá coordenar os debates em busca de soluções para nossa aflitiva situação.
Na Câmara dos Deputados teremos, na segunda-feira, emoções fortes. O embate entre Arthur Lira (PP) e Bolsonaro, de um lado, e Baleia Rossi (MDB) e Rodrigo Maia, de outro, terá certamente resultado apertado, diante de um quadro partidário pulverizado, fragmentado, inconsistente, onde traições e “indisciplinas” se multiplicam.
Os novos presidentes da Câmara e do Senado serão atores chaves na construção do roteiro de saídas para um país mergulhado em forte turbilhão econômico, social, sanitário e político.
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