A discussão sobre o voto impresso, que chega nesta terça-feira (10) ao Plenário da Câmara dos Deputados, marca um momento de quebra na confiança de parte da população brasileira com seu sistema eleitoral. Graças a esta mudança de paradigma, o Brasil conseguiu converter uma discussão tecnológica em mais um motivo de polarização política, motivo pelo qual todos os lados saem perdendo.
A conclusão é da pesquisadora e professora Ana Cláudia Santano, da ONG Transparência Eleitoral, em live transmitida nesta segunda-feira (9) pela ONG Transparência Capixaba. O Congresso em Foco participou como convidado na entrevista.
“A coisa mais negativa que a gente vai colher de tudo isso é a grande fissura na confiança social da autoridade eleitoral brasileira. A gente deixou, permitiu – e aqui o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem que fazer um mea culpa – que a confiança na Justiça Eleitoral, que era alta, ficasse quebrada, rachasse”, resumiu Ana Cláudia. “E eu não tenho muita certeza que a gente vai conseguir reconstruir essa estrutura em pouco tempo.”
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A pesquisadora diz que debates sobre melhorias ao sistema eleitoral brasileiro são sempre bem vindas, mas que a atual discussão está viciada. “O grande problema é que a solução que está sendo apresentada não está sendo bem planejado”, ressaltou a especialista, “mesmo os próprios especialistas na tecnologia dizem que um projeto piloto deste tamanho tem de ser implantados a médio prazo”. Colocar 100% das mais de 500 mil urnas com o sistema impresso a um ano da eleição, sem testes de segurança e sem garantias orçamentárias é, na visão da pesquisadora, arriscado.
O texto chega ao Plenário da Câmara depois de ser rejeitado pela comissão especial que analisou o tema. A derrota do parecer do deputado Felipe Barros (PSL-PR) foi uma derrota pessoal de Jair Bolsonaro, que advoga diariamente pelo tema. Nesta semana, o presidente chegou a reconhecer que o texto será barrado, em parte pelo que considerou como pressão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.
PublicidadeSantano, que já participou como observadora de eleições no Brasil e em outros países, considera a urna brasileira como auditável e atual – a sua interface ter permanecido a mesma desde as primeiras eleições eletrônicas em 1996 tem um caráter pedagógico e ajuda a sociedade a reconhecer o momento de votar.
“Não é que o voto não é auditável, ele é. O que está se buscando, no debate sério [sobre o tema], é um outro tipo de auditoria que possa fazer o cruzamento dos dados”, disse, “mas infelizmente não é isso que vemos no debate que está sendo travado.”
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