Desde a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, o Brasil tem presenciado uma série de eventos de violência extrema, tais como os atentados de 8 de janeiro de 2023, as queimadas criminosas e a explosão de um homem-bomba em frente ao Supremo Tribunal Federal, que são consequência das campanhas de ódios e desinformação da extrema direita contra o sistema político, as instituições, as autoridades e agentes públicos.
Além disto, cresce no país a ação das milícias e a institucionalização do crime organizado, cuja atuação não se limita a atividades ilícitas, mas adentra a esfera do poder econômico e político, evidenciando a gravidade da situação. Essas organizações criminosas se infiltraram no aparelho de estado e perderam o medo a ponto de promoverem assassinatos em área públicas, como ocorreu com a vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e com o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, no Aeroporto de Guarulhos. Isso não são apenas ruídos, mas sinais consistentes de falhas graves do sistema de segurança pública e dos serviços de inteligência dos governos estaduais e federal, que não foram capazes de detectar e agir preventivamente em todos esses episódios.
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Os ataques de 8 de janeiro de 2023 ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto são exemplos impactantes da falta de diligência e de coordenação entre os órgãos de segurança. Milhares de manifestantes, em grande parte motivados por uma retórica de extrema direita que contesta o sistema democrático, conseguiram invadir e depredar sedes de poder em Brasília com relativa facilidade, e até mesmo com o “apoio” de instituições que deveriam zelar pela proteção das instituições. Para além da captura de alguns desses órgãos pela ideologia da extrema direita, tal episódio demonstra, inequivocamente, uma falha coletiva dos serviços de inteligência, que, mesmo cientes de ameaças nas redes sociais e manifestações de apoio ao movimento, não foram capazes de evitar o ataque. Esse evento expõe uma falha de planejamento e de resposta integrada entre as diversas esferas de segurança.
A presença e a organização de grupos criminosos, especialmente o Primeiro Comando da Capital (PCC), são outro fator de desestabilização que escapa ao controle dos serviços de segurança. Nos últimos anos, o crime organizado no Brasil avançou para além do tráfico de drogas e passou a atuar em diversas frentes, incluindo a compra de empresas, a prestação de serviços a governos locais e até a participação em processos eleitorais. Um exemplo marcante da ousadia dessa gente ocorreu com a execução de líderes dissidentes, que revela o nível de influência e impunidade desses criminosos.
A fuga de integrantes do PCC do presídio de segurança máxima de Mossoró em 2023 também escancarou a vulnerabilidade do sistema penitenciário brasileiro. Considerado um dos presídios mais seguros do país, a cadeia de segurança máxima de Mossoró deveria ser impenetrável, mas não conseguiu conter o avanço de uma quadrilha que executou uma fuga coordenada. O evento foi visto como uma falha gravíssima, uma vez que as prisões de segurança máxima são concebidas exatamente para impedir esse tipo de ação. Essa situação indica a insuficiência do sistema penitenciário para dissuadir líderes de facções criminosas, que continuam a operar e coordenar ações externas. Esse episódio é particularmente simbólico do fracasso dos sistemas de inteligência e segurança em conter a expansão do crime organizado, indicando que, mesmo nos espaços de maior vigilância, há uma incapacidade de evitar ações bem coordenadas por essas organizações criminosas.
Outro elemento que reforça a percepção de descontrole é o avanço das milícias. Originárias do Rio de Janeiro e agora presentes em vários estados do Brasil, as milícias não apenas tomaram o controle de territórios, mas também se infiltraram em estruturas estatais. Em muitos casos, a relação entre milicianos e o poder local é explícita, o que aumenta o poder desses grupos e dificulta a atuação das forças de segurança. As milícias utilizam métodos de controle de comunidades através da coerção e violência e controlam serviços como transporte, venda de gás e até segurança para os moradores. Esse domínio territorial cria um espaço onde o Estado perde sua soberania e onde os serviços de inteligência encontram uma barreira quase intransponível para penetrar. Como resultado, processos inteiros ficam sujeitos a um regime de violência, corrupção e ameaça.
Esse contexto de violência é alimentado por uma retórica de extrema direita que promove o ódio, questiona o sistema político e deslegitima as instituições. Durante e após o governo de Jair Bolsonaro, houve um crescimento de discursos polarizadores que incentivaram atos de desobediência civil. Essa atmosfera de intolerância enfraquece a coesão social e legitima práticas violentas contra o sistema, estimulada pela difusão de campanhas de ódio e desinformação nas redes sociais e em discursos políticos influencia diretamente a atitude de indivíduos que buscam “fazer justiça” por meio da força, ao mesmo tempo em que dificulta o trabalho das forças de segurança ao fragmentar a sociedade. Sem uma resposta contundente e coordenada das autoridades, há uma grande possibilidade de esse ambiente continuar a propagar instabilidade.
Por tudo isso, esses eventos não podem ser classificados apenas como ruídos ou atos isolados de “lobos solitários”, mas como sinais claros de falhas estruturais em sistemas de segurança e inteligência, que, se não forem urgentemente corrigidos, podem comprometer a segurança do país e a própria democracia. O crime organizado e o extremismo político são os pilares da violência vivenciada no País, e sua combinação cria um ambiente cada vez mais propenso a ataques coordenados e à ruptura do Estado de Direito. É fundamental que o sistema de justiça, em conjunto com as forças de segurança, adote uma postura proativa, investindo em inteligência e controle sobre as novas estratégias do crime e do extremismo. Somente assim será possível proteger a integridade das instituições e garantir uma sociedade estável.
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