As estratégias de um candidato em busca da captação do voto, durante a corrida eleitoral, são diversas. Ao longo desse processo, também são várias as áreas que compõem uma campanha política. Uma delas, a comunicação, ganha vida ao tentar influenciar o debate público e estabelecer uma empatia com o eleitor. Cada candidato, portanto, cria ou se apropria de determinadas ideias e conteúdos e adere a formas de se comunicar com os eleitores. De um modo mais brando ou incisivo, mais calmo ou raivoso, posicionam-se defendendo temas pacíficos, neutros ou polêmicos.
Nesse contexto, uma das perguntas mais comuns de candidatos a assessores é: “Isso dá voto”? Para muitos, quando a resposta é sim, não importa a peça teatral: ela será executada. Não importa a música: a banda vai ter que tocar.
Se tiver que disseminar discurso de ódio, será feito. Se tiver que discriminar o outro, o diferente de si, será feito. Se for preciso mentir e acusar o adversário sem o menor pudor, a tarefa também será cumprida. Mas, mesmo que nada disso corresponda a uma campanha que se diga honesta, ainda há coisa muito pior e que não se pode naturalizar.
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Aqui, a questão principal é a seguinte: como é possível, em um regime democrático, haver a defesa explícita do nazismo? Isso não é sinônimo de pluralidade de ideias, isso não é democrático. Aliás, nazismo e fascismo reúnem um conjunto de valores completamente opostos a qualquer princípio da democracia e da convivência humana em civilização.
Do mesmo modo, como se pode conceber um político, principalmente com mandato, organizar e defender campanhas contra a vacina em meio a uma pandemia mundial e nenhuma punição acontecer? Trata-se de uma política de condução de um rebanho de pessoas – hipnotizadas e extremamente alienadas com esse tipo de discurso, à morte. Isso também nada tem a ver com democracia: é a prática da necropolítica.
Mesmo pensando e refletindo sobre a política com o olhar realista de Maquiavel, para quem as esferas da ética e da moral não coincidem com a esfera da política, nunca é demais perguntar: até que ponto os fins justificariam os meios? Que tipo de sociedade está sendo construída nestes termos? É normal uma nação observar passivamente ao crescimento desses tipos de células cancerígenas – nazismo, fascismo, autoritarismo – quando a História da humanidade está repleta de exemplos de tragédias que começaram do mesmo modo, sem ninguém dar importância ao monstro que estava sendo criado?
Ora, discurso tem poder, que gera ações e comportamentos e a liberdade de expressão, opinião e pensamento não pode ser confundida com liberdade de agressão, insulto e violência política contra os que pensam diferente você.
Qual seria então o limite de tudo isso? Qual o futuro de um país que tem políticos que dão voz ao nazismo na tentativa de captar votos? Como é possível tolerar a comunicação de parte desses candidatos reavivar os princípios mais sórdidos do fascismo, pelo fato de que isso mobiliza, engaja pessoas alienadas e dá voto? Onde está o interesse público que é motor da democracia?
Há, sim, limites para o oportunismo político. A História real não perdoa e no fim das contas, o que ficará de qualquer político é o que será lembrado do que foi feito com o espaço de poder conquistado, e o legado para a sua e para as gerações futuras, pois a verdade pode até ser ofuscada, escondida e sufocada por um tempo, mas ela nunca deixará de existir e um dia haverá de aparecer e cobrar as suas consequências, em forma de vergonha pública e de consciência sobre os terríveis erros cometidos que impactaram não só sobre as suas respectivas vidas, mas também sobre as vidas dos outros e de suas respectivas famílias e da nação. Portanto, não. Não vale tudo pelo voto.
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