A antecipação da aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski animou o comando do PL, que antes estava pessimista quanto às chances de o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguir escapar de uma condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ficar inelegível por oito anos. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, calcula que a saída de Lewandowski pode fazer com que o placar acabe pendendo em favor de Bolsonaro.
O primeiro processo contra Bolsonaro que deve entrar em julgamento é uma ação do PDT, que acusa Bolsonaro de abuso de poder e atentar contra o estado democrático de Direito por ter promovido dentro do Palácio da Alvorada uma reunião com embaixadores estrangeiros, transmitida ao vivo pela EBC, para colocar dúvidas infundadas contra o sistema eleitoral brasileiro.
Nas contas de Valdemar, Bolsonaro tinha claramente contrários os votos dos três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no TSE: Lewandowski, a ministra Cármen Lúcia e o presidente do tribunal eleitoral, Alexandre de Moraes. No lugar de Lewandowski, com a antecipação da sua aposentadoria, entrará Cássio Nunes Marques, um ministro que foi indicado por Bolsonaro e é seu aliado.
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Benedito Gonçalves, que é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o relator da ação do PDT, também é um voto contrário a Bolsonaro. Com a entrada de Cássio e a perda do voto de Lewandowski, que, por ser ali o decano (o ministro mais velho) poderia influenciar de forma mais decisiva outros votos, Valdemar confia na possibilidade de Bolsonaro ter os votos dos demais ministros: o outro representante do STJ, Raul Araújo Filho, e os dois representantes dos advogados, Sérgio Silveira Banhos e Carlos Bastide Horbach.
O caso mais complicado
Na avaliação do PL, se Bolsonaro escapar da ação do PDT, o caminho com relação às demais ficaria mais fácil. O partido avalia que esse é o caso mais complicado. Aquele em que há, de fato, questões objetivas que pesam contra Bolsonaro, e não somente interpretações mais subjetivas. Efetivamente, Bolsonaro utilizou-se de espaços e instrumentos de que dispunha como presidente para produzir uma ação que lhe trazia benefícios de ordem política e eleitoral. A reunião com os embaixadores aconteceu dentro do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República, com a utilização dos equipamentos e da transmissão da EBC, a emissora de televisão pública. Caso os ministros do TSE sigam na direção do que defende o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de que, além disso, Bolsonaro atentou contra a democracia, uma vez que nada das acusações que fez às urnas eletrônicas tem comprovação, a coisa pode se agravar ainda mais.
Antes da antecipação da aposentadoria de Lewandowski, o PL considerava como muito provável a inelegibilidade de Bolsonaro. E por isso já vinha trabalhando alternativas ao seu nome. Inclusive sua mulher, Michelle Bolsonaro. No caso, imaginava que mesmo inelegível, Bolsonaro seria um importante cabo eleitoral na tarefa que o partido busca de aumentar o número de prefeitos eleitos pela legenda nas eleições municipais do ano que vem e se mostrar forte para a sucessão do presidente Lula em 2026. A chance da inelegibilidade não está descartada pelo partido, mas Valdemar considera que o jogo no TSE ficou mais embaralhado.
Risco de comoção
Valdemar avalia que a essa altura o TSE ainda não conseguiu medir de fato os efeitos políticos de uma condenação a Bolsonaro. Sem conseguir saber como a militância bolsonarista reagiria, tendo ainda os ecos do que aconteceu no 8 de janeiro, o tribunal mede seus passos com cuidado. Então, nesse sentido, a estratégia do PL é tentar intensificar o retorno de Bolsonaro aos holofotes da política. Esse, porém, é o ponto que exaspera o partido. A sala reservada para Bolsonaro no PL ainda o aguarda. O ex-presidente ainda resiste a sair das sombras em que se enfiou desde que foi derrotado nas eleições de outubro do ano passado.
Até esta quarta-feira (12), Bolsonaro ainda estava em Angra dos Reis (RJ), onde passou o feriado da Semana Santa. O PL o espera, contando que ele chegue ao espaço que lhe foi reservado no partido na quinta-feira (13). No nono andar do bloco A do edifício Brasil 21, em Brasília, onde fica a sede do PL, a turma de Bolsonaro, Michelle e do seu candidato a vice na derrota do ano passado, general Walter Braga Netto, ocupa a metade do espaço. No canto mais à esquerda fica a própria estrutura do partido, com a presidência e suas assessorias. No espaço mais à direita, as salas de Bolsonaro, Michelle, Braga Netto e suas equipes.
O plano do PL é fazer com que eles formem um tripé onde o partido se prepararia para as eleições municipais do ano que vem. Nas eleições do ano passado, o PL tornou-se o partido com maior número de eleitos no Legislativo, o lhe garantiu a maior fatia do tempo de propaganda de TV e do fundo eleitoral. Mas isso não tornou o PL o maior partido do país, em termos de capilaridade. Está longe ainda de ser aquele que tem o maior número de prefeitos e representantes nos municípios. É o que planeja conseguir no ano que vem.
A tarefa de Braga Netto e dos militares que chegaram com ele ao PL é mapear a situação estado por estado para traçar estratégias. E Braga Netto pode ser um nome a ser testado no Rio de Janeiro, pela experiência que teve quando comandou no estado a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Michelle tem por tarefa aumentar o número de filiações femininas e organizar o PL Mulher pelo país para garantir o cumprimento da cota de mulheres nas eleições. E conseguir assim reduzir a rejeição do eleitorado feminino que foi decisiva para a derrota de Bolsonaro em 2022.
Já Bolsonaro seria o grande cabo eleitoral viajando pelo país. O PL guarda a sete chaves os resultados da pesquisa que fez para saber até que ponto a derrota e tudo o que aconteceu depois reduziu o capital político de Bolsonaro. As informações, porém, são de que a pesquisa constatou, sim, uma perda, mas pequena. Ela teria sido de dois pontos percentuais.
Assim, o PL ainda aposta muito no seu potencial. O problema, porém, segue trazer de fato Bolsonaro para essa estratégia. Ele ainda não sentou para dizer de que forma pretende se movimentar. Só informou que quer fazer, no máximo, duas viagens por mês apenas. É possível que inicie por São Paulo, onde já recebeu o convite do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Avalia-se que há ali um grande número de prefeitos de perfil conservador, que antes estavam ligados ao PSDB, que poderia migrar para o partido.
Esse é jogo pensado pelo PL. Mas o jogo depende de Bolsonaro. E até esta quarta-feira, ele ainda estava em Angra…