por Rafa Zimbaldi*
Os estudos relacionados à vacina Calixcoca contra o vício em cocaína e no crack, e que está sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sublinham, mais uma vez, a importância de investimentos em Ciência. O assunto, que vem despertando a atenção nas últimas semanas, passa por saúde pública, por segurança e pelos direitos humanos. Neste contexto, é evidente que a vontade política faz toda a diferença. É preciso, afinal, que imunizantes como este possam se tornar realidade, o quanto antes.
A Calixcoca induz à produção de anticorpos que inibem os efeitos da cocaína e do crack no cérebro de usuários. Pela inovação, já é merecedora do prêmio internacional que está concorrendo. Por outro lado, tornar acessível a vacina é passo imprescindível. Para tanto, convidei o professor Frederico Garcia, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG e pesquisador-responsável pelos estudos do imunizante, para falar sobre o tema na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O especialista terá a oportunidade de compartilhar informações sobre o novo imunizante na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Epidemia do Crack, da qual sou membro efetivo.
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O trabalho da CPI será fundamental na busca por um panorama transparente dos efeitos do crack e da cocaína na sociedade, nos usuários e em suas famílias. Acredito ser consenso político que a Cracolândia é uma das mais simbólicas regiões de São Paulo (SP) e do país que precisa, não de hoje, de solução pragmática. Em meio a um caos que esbarra em pobreza, abandono, desemprego, insegurança, tráfico de drogas e vício, há pessoas que chegam a permanecer na Cracolândia por dez, 15 anos. Entra governo e sai governo, o problema persiste, resiste e desafia o tempo, e se reinventa, ao passo em que se fortalece. A vacina, ao meu ver, pode ser um componente valioso no combate à Cracolândia
Está claro que não estamos diante apenas de um problema de saúde pública. Por mais que possamos atuar de forma concreta neste sentido, ainda temos pela frente um longo caminho social a percorrer, já que cenas de uso de drogas, a exemplo do que acontece na Cracolândia e em outros aglomerados semelhantes espalhadas por muitas capitais do Brasil, causam efeitos devastadores também na segurança pública. Explico: os redutos viram base da criminalidade, de domínios sem lei e, consequentemente, provocam insegurança no cidadão.
O crack é a mistura da cocaína com o bicarbonato de sódio ou amônia. Essa foi a saída do tráfico para aumentar a saída e, de forma sintomática, o lucro com a cocaína, fazendo com que os usuários químicos tivessem acesso mais facilitado a uma droga “pesada” e socialmente mais impactante. Vale lembrar que, não de hoje, a cocaína ainda é uma das drogas mais consumidas e mortais no país e no mundo.
PublicidadePara se ter ideia, o Relatório Global sobre Cocaína (em inglês, Global Report on Cocaine), publicado em março deste ano, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, mostra que houve um aumento dramático no número de mortes por conta do uso de cocaína após a entrada da Covid-19 no Brasil, embora a pandemia, segundo o mesmo estudo, ter prejudicado o mercado interno dos entorpecentes.
De toda forma, o ciclo do crack, que faz parte do tráfico de cocaína, precisa ser rompido. A Ciência está dando uma contribuição fundamental a partir do desenvolvimento da Calixcoca, que atingirá em cheio o vício.
Em paralelo, e além das discussões políticas e sociais em torno do assunto, dependemos, também, de uma ação conjunta, e cada vez mais efetiva, por parte do poder público e da sociedade. Devem ser envolvidos no debate e nas propostas de ação e de solução agentes sociais, Organizações Não-Governamentais (ONGs), comunidades terapêuticas e instituições voltadas aos direitos humanos. É atitude coletiva, necessária e urgente.
* Rafa Zimbaldi (Cidadania-SP) é deputado estadual reeleito para o segundo mandato; é presidente da Frente Parlamentar de Combate e Enfrentamento às Drogas, e membro efetivo da CPI da Epidemia do Crack e da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp); foi vereador por quatro mandatos em Campinas-SP e presidente da Câmara Municipal por duas oportunidades.
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