Buscando dar continuidade ao trabalho parcialmente interrompido do fórum anônimo 1500chan após as denúncias veiculadas pelo Congresso em Foco; usuários do portal 27chan, segundo maior site brasileiro no formato imageboard, decidiram se organizar para produzir e disseminar fake news em favor da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.
Imageboards, ou chans, são sites de discussão onde os usuários debatem de forma anônima, não havendo sequer uma identificação de usuário. A única identidade é um código vinculado à sua rede de internet, que é alterado cada vez que se conecta a uma nova rede. Esses espaços são frequentemente utilizados ao redor do mundo para a disseminação de discurso de ódio, teorias de conspiração e produção de fake news em favor de lideranças de extrema-direita.
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No último mês de junho, o 1500chan, maior imageboard brasileiro, recebeu destaque após a veiculação de denúncias expondo a organização de seus usuários para produzir desinformação eleitoral. A administração do fórum adotou medidas para restringir o acesso de usuários. A consequente redução nas atividades do site levou os usuários do 27chan a discutir como seguir com a mesma prática.
O conteúdo do 27chan pouco difere do outro site. Discursos de teor racista, misógino e antissemita não possuem restrição, alcançando domínio nas discussões. Nas regras do site, há a proibição expressa para o acesso de mulheres, bem como a proibição de “conteúdo subversivo” ou “apologia às ideologias de esquerda”. Quanto à legalidade do conteúdo, os únicos crimes proibidos são aqueles referentes a menores de idade, havendo recomendação da administração para que o usuário seja “inteligente quando postar sobre atividades potencialmente ilegais”.
O antissemitismo é imperativo entre os usuários, que comumente estimulam a prática de “matar judeus e esquerdistas”. O mesmo tratamento é dado ao racismo, havendo inclusive, na página de política, uma publicação para que os usuários colecionem vídeos que rebaixem pessoas negras. “Vamos observar o comportando dessa etnia que divide o país com a gente”, alega o autor.
PublicidadeNa produção de fake news, um dos usuários deixa clara a intenção de organização. “O 27 deveria ser a máquina de propaganda agora, já que o 1500 arregou para um jornalista”, escreveu um usuário. Um deles chega a sugerir o caminho oposto. “Todo anão tem que ser uma máquina de propaganda em seu próprio meio, (…) é só cada um fazer sua parte silenciosamente”, sugeriu.
Outro usuário já tentou reunir material para atacar especificamente a comunidade LGBT. “As bichas do 1500 não ajudaram com porra nenhuma, então vou tentar aqui. Preciso de cartazes, dados e informações contra viados e aberrações para imprimir e espalhar pela cidade”, publicou um usuário.
Teorias de conspiração também possuem terreno fértil, em especial contra judeus. Um usuário chega a sugerir que a tecnologia de internet 5G estaria sendo utilizada para interferir nas urnas eletrônicas e na manipulação de pessoas para o cometimento de crimes no Brasil, citando Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro em 2018, como vítima da manipulação.
O 27chan existe desde julho de 2014, e é mantido por meio de doações realizadas com criptomoedas. O servidor e o domínio onde é hospedado são mantidos com pagamento em dólar, e a moderação disponibiliza aos usuários o código da carteira de bitcoin para doações.
No dia 4 de junho, o Congresso em Foco denunciou um esquema de compra de produção de fake news em favor do presidente Jair Bolsonaro. A reportagem gerou ameaças de morte a dois membros da equipe de reportagem que estão sendo investigadas pela Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Distrito Federal. Os ataques foram repudiados por parlamentares e entidades de jornalismo.
O anúncio que oferecia pagamento em bitcoins pela produção de desinformação que favorecesse o atual presidente foi veiculado no site 1500chan, o mais ativo imageboard brasileiro. Ataques a movimentos sociais, propaganda de extrema-direita, divulgação de conteúdo declaradamente racista e antissemita, bem como teorias de conspiração ocupam o topo das abas políticas desses sites.