Estamos vivendo um dilema moral e civilizatório que ainda não consegui encontrar nada parecido em nossos registros históricos. Hoje em dia é mais “nobre” manter-se no poder do que, por exemplo, destrinchar o emaranhado de problemas que a Petrobras enfrenta.
Com a proximidade das eleições, qualquer aresta deixada pela candidata petista servirá de rolo compressor guiado pelos adversários que também almejam o Planalto. E é exatamente nesta hora que entra em cena o ex-presidente Lula.
No dia 4 deste mês, Lula e sua afilhada política, Dilma Rousseff, também conhecida como presidenta, se encontraram num luxuoso hotel em São Paulo para confabular sobre a situação atual do governo em relação a estatal.
“Unhas e dentes”. Este foi o termo utilizado pelo ex-presidente Lula para se referir àquilo que ele chama de “defender a Petrobras”. Defender de quem? Por acaso, ele acha que existe algum culpado maior do que o próprio governo?
A Petrobras está indo por água abaixo por falta de competência de seus administradores, por desleixo político e por falta de uma fiscalização mais severa que puna os responsáveis.
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Lula não quer defender a Petrobras, ele quer defender a permanência de seu partido no poder. Mesmo que a estatal já tenha perdido um horror de dinheiro, ainda há muito a ser saqueado. Dar margem para que os adversários ataquem impiedosamente sua afilhada política pondo em risco a sua própria vaga no poder, ainda que, extraoficialmente, ela seja uma carta fora do baralho de Lula.
PublicidadeEsta semana a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado opinou pela criação de uma CPI ampla, ou seja, colocou em um só balaio não só a Petrobras, mas também outros casos como o do metrô de São Paulo. Essa atitude tomada pela CCJ, a meu ver, é uma maneira legal de misturar tudo para não dar em nada. E isso é tudo que o partido do governo quer, uma vez que é necessário dar “uma resposta” à sociedade. O tempo ganho nesse balaio de gato será suficiente para que a Dilma não comprometa sua reeleição com os votos que andam se perdendo pelo caminho.
Quanto a nós, simples mortais, resta-nos o descaso, o esquecimento e a certeza de que ainda somos a grande massa de manobra que alimenta o apetite voraz daqueles que fazem de tudo para não largar o poder.