As últimas declarações de líderes do PDT a favor do projeto que retoma o voto impresso no Brasil podem afastar integrantes da sigla. O deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE), filiado desde os 19 anos à legenda, demonstrou descontentamento com falas do presidente do partido, Carlos Lupi, sobre apoiar o voto impresso, bandeira também do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista ao Congresso em Foco, Túlio disse que, hoje, seu futuro no partido “depende mais do PDT” do que dele.
O deputado também criticou uma falta de renovação do partido. “Há 13 anos tenho vida partidária ativa. Sou dirigente nacional há oito anos. Conheço o terreno. O PDT precisa ouvir mais as bases. Abrir espaço para os novos quadros espalhados em todo Brasil. Só assim conseguirá crescer. Não vejo o PDT se reinventar. Psol, PV, Rede e PT têm nos procurado. Mas ainda é cedo para decidir. Fato é que meu futuro partidário dependerá mais do PDT do que de mim”, afirmou.
Para o deputado, o debate sobre o voto impresso é uma via “inoportuna” para o momento que o país vive. Segundo ele, fazer coro às teses bolsonaristas que colocam em dúvida a lisura do sistema eleitoral brasileiro é apoiar os discursos da suposta fraude eleitoral de 2018 e sabotar os resultados do pleito de 2022.
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Divergência
Apesar da posição de Túlio, outros deputados pedetistas ouvidos pelo Congresso em Foco afirmaram que todos dentro do partido simpatizam com a aprovação do voto impresso. Eles alegam que a posição não é de hoje e sim desde a época de Leonel Brizola, fundador do PDT.
“Nós não vamos abandonar boas bandeiras só porque elas estão em mãos erradas. Bolsonaro fala desse negócio do voto impresso, para poder justificar a sua derrota no ano que vem. O que nós queremos é um voto auditável, ninguém tá maluco de retroceder ao voto em cédula”, disse um dos parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco.
PublicidadeTúlio, em contrapartida, afirma que há um racha interno.
“A maior parte da cúpula e dos dirigentes é fiel ao Lupi, sempre acompanha ele nas suas posições. Também porque o voto impresso foi uma tese defendida por Brizola, líder maior e fundador do PDT. A base está dividida. Há um entendimento que aquele era um outro momento, sem força política capaz de ameaçar a democracia. É uma insanidade colocar em xeque a credibilidade das urnas eletrônicas, sem apresentar indícios de fraudes. É o prenúncio de alguém [Bolsonaro] que não reconhecerá uma derrota em 2022.”, aponta.
Eleições 2022
A candidatura de Ciro Gomes para a corrida presidencial do próximo ano já é certa dentro do PDT. De acordo com o deputado Túlio Gadêlha, o presidenciável é “prego batido” dentro da cúpula pedetista. Entretanto, o parlamentar ressalta advertências a Ciro e critica ataques ao ex-presidente Lula, do PT.
“As posições de Ciro podem distanciá-lo da base, dos movimentos orgânicos do partido e dos pedetistas históricos. O PDT está alinhado a Ciro, mas Ciro precisa se alinhar melhor ao PDT. A falta de coerência está nos ataques de Ciro a Lula (e vice-versa). Pra que isso? Fizemos parte do governo Lula, o PDT e o próprio Ciro Gomes”.
Questionado sobre a possível formação de uma aliança na esquerda para enfrentar Bolsonaro no segundo turno, Túlio resgata o ocorrido das eleições de 2018 e culpa o PT pela vitória da direita.
“A esquerda precisa de uma aliança. A incapacidade do PT em apoiar o Ciro em 2018 nos levou ao desastre do governo Bolsonaro. As pesquisas mostravam que o Ciro era o único capaz de vencer Bolsonaro no segundo turno. Faltou humildade do PT. Agora estamos aqui. Ciro não pode guardar essa mágoa. Estamos falando do futuro do Brasil. A realidade é que deveria se impor no processo eleitoral”, completa.