A última rodada da pesquisa Datafolha foi um balde de água gelada, siberiana, para o comando da campanha do candidato do PSDB, José Serra, à Presidência da República. Os números do Datafolha até então, sempre mais favoráveis a Serra, serviam de esteio para evitar debandadas e corpo mole nos estados. Essa é uma característica das eleições casadas. Elas garantem apoio ao candidato à Presidência enquanto isso for algo bom para as eleições nos estados. Na hora em que pedir votos para o candidato à Presidência atrapalha conseguir votos para governador, senador, deputado, o candidato à Presidência vai desaparecendo da campanha estadual.
Serra não apenas perdeu a liderança para Dilma Rousseff, do PT. Ela já apareceu oito pontos percentuais à frente. Fica mais do que confirmado um favoritismo que os outros institutos de pesquisa já apontavam. Feita a leitura da pesquisa, os estrategistas da campanha de Serra agora não pensam mais em como fazer para chegar à frente da adversária petista no primeiro turno. A tarefa agora passou a ser conseguir de todas as formas que haja segundo turno.
“A Dilma no segundo turno, derrete”, apostou o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), numa conversa com este colunista na última sexta-feira (13). Descontado o natural discurso engajado em favor de Serra, a conversa com Paulo Bornhausen apontou para o cenário que se encaminha para o candidato do PSDB, nessa fase que se inicia, de campanha de fato, com o início das propagandas de rádio e TV.
A avaliação que os aliados de Serra fazem é que a possibilidade de crescimento de Dilma se esgota terminado o primeiro turno. Até pelo formato escolhido pelo próprio presidente Lula, que não permitiu que Ciro Gomes (CE), do PSB, se apresentasse como um segundo candidato da situação, é no voto em Dilma que se concentra toda manifestação de homenagem, apreço e apoio ao atual governo. Quem quer a continuidade do governo Lula, vota em Dilma. Quem quer que mude, vota nos demais, variando aí a intensidade e o formato da mudança.
Assim, acreditam os estrategistas da campanha de Serra que Dilma chegará ao seu limite no primeiro turno. E que a grande maioria dos votos nos demais candidatos irá para Serra. “Lula, no seu melhor momento, não ganhou no primeiro turno”, diz Paulo Bornhausen, referindo-se à eleição de 2006, em que o presidente foi ao segundo turno com Geraldo Alckmin, do PSDB. “Lula, de fato, furou o espaço do voto cativo que sempre há no PT. Dilma não vai furar”, confia o líder do DEM.
A essa altura, parece haver entre os aliados de Serra um tanto de cálculo racional e um tanto de torcida. Em primeiro lugar, claro está que Serra tem que fazer tudo para levar a eleição ao segundo turno. Se levar, o primeiro impacto disso será mais favorável a ele, que terá conseguido conter a arrancada de Dilma. Mas é difícil prever como se comportará de fato o eleitor que não escolheu Dilma nem Serra no primeiro turno.
O PV de Marina esteve no governo Lula. A não ser que Marina declare apoio a Serra no segundo turno – o que não parece provável -, o grupo realmente mais ligado a ela parece ter mais afinidade ideológica com o PT. Mesmo com todas as restrições, numa opção apenas entre ela e Serra, podem ir para Dilma. Os empresários com preocupações ambientais, que se aliaram à candidatura de Marina por causa de seu vice, o dono da Natura, Guilherme Leal, podem ir para Serra. A confiar no que dizem as pesquisas, os demais candidatos têm presença tão pequena no total de votos que não parecem ter qualquer capacidade de fazer pender a balança. De qualquer modo, não parece provável que Serra tivesse os votos dos eleitores dos candidatos radicais de esquerda. Poderia conseguir os votinhos dos dois conservadores: Eymael, do PSDC, e Levy Fidélix, do PRTB.
Enfim, o quadro atual aponta para um favoritismo de Dilma no primeiro turno que somente um acidente imprevisto poderia reverter. A chance de Serra fica para um segundo turno. Que seria uma espécie de freio de arrumação, uma tomada de fôlego para a nova tentativa de virar a eleição. Serra agora está como aquele lutador de boxe que leva uma saraivada de golpes no final do primeiro round. Toda a sua energia concentra-se em ficar de pé. Para ver se uma esponja de água gelada e algum curativo nas feridas durante o intervalo façam com que ele consiga pensar em alguma coisa diferente no segundo round.