Larissa Alfino *
As eleições municipais de 2024 chegam com um avanço importante na participação de mulheres, mas ainda longe de ser o ideal. Ao longo das últimas sete eleições, a porcentagem de candidatas à prefeitura tem crescido de forma constante. Em 2000, apenas 8% dos candidatos eram mulheres. Agora, 15% das candidaturas são femininas, o que corresponde a 2.311 mulheres concorrendo ao poder Executivo em 1.947 cidades. Além disso, 91 cidades já têm garantido que serão lideradas por uma prefeita, pois as candidatas são todas mulheres. Este número representa apenas 1,65% dos 5.568 municípios brasileiros que vão às urnas este ano, e a concentração é mais forte no Nordeste – segundo dados do portal G1.
Embora os números pareçam otimistas, eles revelam que em apenas 35% dos municípios brasileiros há ao menos uma mulher concorrendo. Essa realidade levanta uma questão presente em todo ano eleitoral: por que, mesmo com avanços, o cenário político brasileiro ainda apresenta tantas barreiras para as mulheres? E mais importante: por que é tão fundamental votar em mulheres?
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A presença de mulheres na política não é apenas uma questão de representatividade. Estudos mostram que a liderança feminina traz resultados práticos e mensuráveis:
Elas priorizam saúde, educação e políticas sociais
Prefeitas têm se destacado pela capacidade de investir em áreas que impactam diretamente a vida das pessoas. Um estudo da UFMG revelou que, nas cidades lideradas por mulheres, os serviços de saúde são mais abrangentes e eficientes do que em administrações masculinas. Isso se reflete em mais creches, escolas e postos de saúde. Segundo o Instituto Alziras, municípios liderados por prefeitas têm maior número de políticas sociais que atendem crianças e famílias, mostrando que a gestão feminina está alinhada com a necessidade de cuidar das bases sociais.
Gestão fiscal mais eficiente
Prefeitas também têm demonstrado uma habilidade fiscal diferenciada. Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, Indiana University e Texas Tech University mostrou que cidades lideradas por mulheres têm uma capacidade fiscal 12% superior em comparação com administrações masculinas. Isso significa que essas cidades arrecadam e gerenciam seus recursos de maneira mais eficaz, entregando mais serviços com menos desperdício. Essa eficiência é reflexo de uma gestão que prioriza planejamento e execução bem-sucedida.
Melhor gestão de crises
Em tempos de crise, prefeitas se destacam. A pandemia de covid-19 foi um exemplo disso. Pesquisas apontam que cidades lideradas por mulheres conseguiram responder melhor à crise sanitária, promovendo respostas mais rápidas e assertivas. Além disso, prefeitas têm uma postura mais colaborativa, promovendo parcerias e integrando a sociedade civil de forma mais eficaz – segundo o estudo “Liderança feminina em tempos de crise”, da Harvard University.
Votar em uma mulher, portanto, não é apenas sobre equidade, é sobre competência comprovada em áreas cruciais para a administração pública. Mas os desafios enfrentados por elas são gigantes.
A violência política de gênero tem assumido novas formas com o avanço das tecnologias de inteligência artificial, tornando-se cada vez mais preocupante no cenário atual. Um exemplo recente é o uso de deepfakes, como no caso das candidatas à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), que tiveram suas imagens reais manipuladas digitalmente para criar falsos nudes, conforme divulgado pela Agência Lupa. Essas violências digitais são uma tentativa clara de descredibilizar e intimidar mulheres na política, gerando impactos devastadores em suas carreiras. Embora as denúncias sejam essenciais, ainda falta um mecanismo eficaz para impedir a disseminação massiva dessas imagens e vídeos, o que evidencia a necessidade de novas ferramentas e estratégias para combater esse tipo de ataque. A violência política de gênero, agora amplificada pela tecnologia, continua a ser um dos maiores desafios enfrentados por mulheres que decidem concorrer a cargos públicos.
Outro desafio significativo é o acesso desigual ao fundo eleitoral. Embora a legislação brasileira tenha avançado ao garantir uma cota mínima de 30% para candidaturas femininas e pessoas negras, a distribuição desses recursos ainda não chega da maneira correta – infelizmente, sabemos que acontecem repasses indevidos e que mulheres frequentemente recebem menos recursos do que seus pares masculinos, o que limita sua capacidade de fazer campanhas competitivas. Em linhas gerais, homens receberam mais de 70% dos recursos partidários, e brancos 60%, enquanto indígenas apenas 0,3%. Os dados são da plataforma 72h, em parceria com o Congresso em Foco, que buscam dar transparência e controle social sobre a distribuição dos recursos que vão pavimentar a eleição dos representantes municipais. Acesse clicando aqui.
Essa combinação de violência e desigualdade estrutural dificulta a entrada e permanência das mulheres na política, o que torna o voto consciente em mulheres uma forma de combater essas barreiras.
É comum ouvir a frase “não voto em gênero, voto em propostas”. Esse argumento pode parecer razoável, mas ignora o fato de que as propostas e prioridades de gestão estão diretamente ligadas à vivência e às experiências de quem está no poder. A gestão de uma mulher não se resume ao seu gênero, mas sua perspectiva diferenciada é um fator importante para criar políticas mais inclusivas e eficazes.
Eleger uma mulher é uma escolha que pode trazer benefícios concretos para sua cidade: mais saúde, melhor gestão fiscal e uma capacidade superior de enfrentar crises. Em 2024, seu voto pode ser decisivo para a construção de cidades mais justas e igualitárias. Pense nisso: se não há espaço para as mulheres hoje, quando haverá? Desta vez, faça a diferença. Vote em uma mulher.
* Larissa Alfino é gestora pública, ativista pelo empoderamento político feminino, cofundadora do Instituto Vamos Juntas e da Comunidade #candidatAs.
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