A indicação do ex-ministro e deputado licenciado petista Paulo Pimenta para a Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul acirrou a polarização política em sua terra natal, Santa Maria, cidade de 284 mil habitantes localizada na região central do estado. No município, também gravemente atingido pela tragédia das chuvas que atormentam os gaúchos há três semanas, o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já garantiram suas presenças nos palanques de seus candidatos.
Por causa das chuvas, Lula chegou antes. Mais foi Bolsonaro quem primeiro se manifestou publicamente sobre a disputa local. O ex-presidente era aguardado em Santa Maria para um grande ato no dia 17 de maio, quando o município completou 166 anos. Bolsonaro estaria na cidade para lançar o vereador Tubias Callil (PL) como seu candidato à prefeitura.
A agenda foi montada pelo deputado federal Tenente Coronel Zucco (PL-RS). Caravanas de todo o estado já estavam organizadas para receber Bolsonaro. O ex-presidente chegou a fazer um vídeo ao lado de Zucco anunciando sua ida e inflando a militância apoiadora. “Será motivo de satisfação e muito orgulho [estar em Santa Maria]. Já estive em Santa Maria outras vezes, como deputado e presidente, e será muito bom retornar”, disse Bolsonaro. Os planos foram abortados tanto pelas chuvas quanto por um quadro de erisipela, que deixou o ex-presidente internado por duas semanas. Aliados dão como certo que Bolsonaro estará no palanque de Callil em ao menos duas ocasiões durante a campanha.
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As mesmas tempestades que atrasaram os planos de Bolsonaro acabaram soprando a favor dos petistas. Não havia qualquer previsão de que Lula fosse a Santa Maria para o lançamento da candidatura de Valdeci Oliveira (PT) a prefeito. O cenário agora mudou. Valdeci, que já comandou o município duas vezes, sendo uma delas com Pimenta de vice, tenta sua quarta eleição ao cargo. Com a tragédia, o presidente esteve na cidade duas vezes desde o início do mês. E deve voltar mais vezes.
“O governo federal estará 100% à disposição do estado e do povo do Rio Grande do Sul para a gente atender com material humano, trabalho, eficiência e com recurso, que eu sei que vai ser necessário para a gente reparar os prejuízos”, disse o presidente em uma das viagens ao município.
Eleições
PublicidadeConhecida como cidade universitária, Santa Maria é também um dos maiores polos militares do país. Destacado como autoridade federal no Rio Grande do Sul, designação que causou polêmica entre aqueles que consideram que Lula politizou o enfrentamento à tragédia, Pimenta mantém olhares atentos à sua cidade natal. O ministro e Valdeci Oliveira são amigos íntimos e militam juntos no PT desde os anos de 1980. Sob a influência de Pimenta, Santa Maria foi alçada à lista dos municípios tidos como prioritários no mapa eleitoral do partido este ano.
Em solo santa-mariense, as eleições costumam ter históricos apertados. A disputa pela Presidência da República, em 2022, é um exemplo recente. Lula venceu na cidade com pouco mais de 6 mil votos de vantagem sobre Bolsonaro. O município tem 206 mil eleitores. Em todo o Rio Grande do Sul, Jair Bolsonaro foi o vencedor do segundo turno da eleição de 2022, com 56,35% dos votos válidos. Lula teve 43,65% da preferência dos eleitores gaúchos.
Já a disputa à prefeitura, em 2020, teve como vencedor o tucano Jorge Pozzobom, que derrotou Valdeci Oliveira por uma diferença de apenas 226 votos no segundo turno. Candidato à reeleição, Pozzobom é aliado e correligionário do governador Eduardo Leite. O governador tem recebido forte apoio do governo federal, com a injeção de recursos e distribuição de benefícios sociais à população. Mas não gostou da indicação de Pimenta para o cargo. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) é pré-candidato ao governo gaúcho em 2026. Para Leite e bolsonaristas, a indicação do petista representa uma movimentação escancarada de Lula no jogo sucessório de Leite.