Depois de ver o seu adversário Fernando Haddad (PT) encostar na última pesquisa Ipec, que apontou empate técnico entre os dois, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue para o debate da TV Globo nesta quinta-feira (27) sob forte pressão.
As suspeitas levantadas em torno de uma possível armação de atentado no tiroteio que resultou na morte de um homem de 28 anos em Paraisópolis, durante visita de Tarcísio à comunidade no último dia 17, serão usadas como munição pelo petista no encontro que será transmitido a partir das 22 horas.
Alçado à condição de personagem central do caso, o cinegrafista Marcos Andrade pediu a rescisão de seu contrato com a Jovem Pan nesta quinta-feira (27). Andrade filmou as imagens do tiroteio e foi pressionado pela campanha do candidato bolsonarista a apagar as gravações, conforme demonstra áudio divulgado na última terça-feira.
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Ele relatou que filmou um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e policiais à paisana, da equipe de Tarcísio, disparando tiros na ação que culminou na morte de Felipe Silva de Lima, que estava desarmado.
O cinegrafista relatou à Folha de S.Paulo, em entrevista publicada nesta quarta, que sua demissão foi pedida pela equipe de Tarcísio à Jovem Pan após a divulgação do áudio. Andrade disse temer pela segurança de sua família.
“Eu também estou assustado, porque você não sabe com quem está lidando. Medo não por mim, mas pela minha família, entendeu? Eu estou com minha esposa para ganhar nenê neste próximo mês. A minha preocupação é só essa, da minha família, entendeu, da integridade física de todos. Eu espero que acabe tudo bem, é a minha esperança, para a minha pessoa, para a minha família. Claro que eu tenho medos”, afirmou.
O ex-ministro da Infraestrutura, que foi o mais votado no primeiro turno, interrompeu sua visita a Paraisópolis logo após o tiroteio. O candidato, sua equipe e jornalistas que o acompanhavam ficaram abaixados em uma sala. Ele deixou o local cercado por seguranças em uma van blindada.
Tarcísio disse, na ocasião, ter sido atacado por criminosos. Nas redes, bolsonaristas divulgaram que ele havia sido vítima de um atentado. Imagens do episódio foram veiculadas no horário eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. O caso passou a ser investigado pela Polícia Civil.
No áudio gravado por Marcos Andrade, um integrante da campanha de Tarcísio pergunta ao cinegrafista se ele havia filmado “os policiais trocando tiro”. O repórter cinematográfico responde: “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”. O assessor do candidato ordena, então, que ele apague a gravação: “Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não”.
Como o vídeo foi apagado, não se pode afirmar quem foi o autor dos disparos. “Eu, como jornalista, não vejo erro. Porque em nenhum momento estou mentindo, estou acrescentando vírgula, estou acrescentando ponto. A meu ver, eu não fiz nada de errado. Se alguém fez alguma coisa de errado, não fui eu”, declarou o cinegrafista à Folha.
Tarcísio nega que tenha havido pressão de sua equipe para tentar ocultar qualquer fato. “Pode ser que alguém [membro da equipe], na tensão, tenha pedido para apagar alguma coisa para preservar a identidade de pessoas que fazem parte da nossa segurança. É muito ruim revelar a identidade de pessoas que acabam de se envolver em um conflito com criminosos”, alegou o candidato.
Em nota, a campanha de Tarcísio afirma que houve “interpretação equivocada” e “grave tentativa de descontextualização” da conversa. Também critica o que chamou de “uso desrespeitoso” por parte da campanha de Fernando Haddad e da imprensa em relação ao episódio. “Nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso. Qualquer afirmação que questione isso é uma mentira”, diz o comunicado.
Haddad tem usado o episódio na reta final da campanha, questionando o que Tarcísio quis esconder. “Se você vai destruir os elementos para que o investigador consiga refazer a cena do crime e saber o que aconteceu, você está obstruindo a justiça. É muito grave. E essa prática é uma prática típica de milícia, não é uma prática de quem tem compromisso com a verdade”, disse o petista durante ato em Ribeirão Preto na terça.
Sem provas, Tarcísio fala em intimidação com tiros. PM desmente atentado