A gestão do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães segue fazendo escola no banco estatal controlado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). Afastado recentemente do cargo após denúncias de assédio moral e sexual, o gestor era rodeado de aliados com práticas similares no comando da empresa.
Na Paraíba, uma das superintendes da Caixa, Maria Aline Xavier de Paiva, coleciona, pelo menos, 10 depoimentos sobre assédio moral na Corregedoria do banco, fora os casos de funcionários que pediram demissão após serem abordados pela toda poderosa da rede. No currículo da gestora, estão frases de cunho sexual para coagir colaboradores e reuniões quase sempre em tom de ameaça.
O Congresso em Foco teve acesso a áudios de reuniões comandadas por Maria Aline Xavier de Paiva com dirigentes e gerentes do banco na Paraíba. A então gestora, que foi promovida e está atuando em um grupo de trabalho em Brasília, realizava alguns encontros usando como música de fundo o “Tema de Ayrton Senna”, bastante comum nas transmissões televisivas da Fórmula 1 em que o piloto homônimo conquistava vitórias na década de 1990.
Essa música foi usada na campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2018. Apesar da música de vitória, os encontros eram baseados na cobrança excessiva por desempenho, citando, por exemplo, colaboradores afastados de cargos de chefia que não atingiram suas metas.
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“Eu vou dizer uma coisa: Vamos fazer Previdência com força hoje. Porque chefe feliz é qualidade de vida. Pelo amor de Deus”, diz um dos colaboradores do banco em um dos áudios em que nossa reportagem teve acesso.
Aline, então completa: “Os meninos têm o privilégio de eu poder arrochar. E você, quem vai lhe arrochar, lhe pegar por trás, é Marcelão. Então eu acho que ainda vai ser pior. Eu pelo menos vou mandar para você um tubinho de Hipoglós que Marcelão anda no bolso… Ei, beijo no coração que agora vamos fazer Previdência. Hoje o dia pede, hoje o dia corre. Valeu. Beijo. Bora que o desafio é grande…”.
Ouça o áudio:
Em outra reunião, sempre em tom ameaçador, a gestora fala aos gerentes sobre metas para venda de planos de Previdência do banco: “A sede tem sangue no olho, eu sei que vocês têm. Então, tratem de mostrar, de vibrar, postar, criar liga. Tem um lema assim: a gente contrata por contrato. A gente contrata gerente, eu estou avaliando todo mundo. Quem quiser crescer, bora. É meritocracia pura”, justifica.
“É no CPF de cada um”
Maria Aline Xavier de Paiva deixava claro que ia atrás de cada gerente: “É no CPF de cada um, não adianta se esconder no CNPJ da agência […] Eu quero o CPF de cada gestor. Eu estou olhando o de cada um”, ameaça em um dos áudios.
Em março deste ano, a Corregedoria da Caixa teria tomado conhecimento das denúncias de assédio moral. Servidores do banco das regiões do Sertão e do Brejo Paraibano alegaram problemas psiquiátricos e crises de pânico. No mesmo mês, o Sindicato de Bancários da Paraíba (Seeb-PB) e de Campina Grande e Região (Seeb-CGR) se reuniram virtualmente com Aline Paiva, que negou a prática de assédio moral.
Os servidores relatam que, após essa reunião, mesmo com a gestora se comprometendo em melhorar o clima organizacional, as relações pioraram de vez. Enquanto fazia a apuração do caso na Corregedoria, a gestora continuava atuando com subordinados que lhe denunciaram.
Aline teria sido promovida a um grupo de trabalho em Brasília, no início do mês de junho, período quase simultâneo aos casos de assédio revelados pela mídia praticados pelo então presidente do banco, Pedro Guimarães. Os sindicatos alertam que há o temor que a gestora volte à Paraíba. E ainda mais “poderosa”.
Perguntada pelo Congresso em Foco sobre as denúncias, se a gestora ainda continua recebendo salários ou foi afastada, a Caixa se limitou a dizer que “o sigilo das denúncias feitas à Corregedoria do banco e respectiva apuração disciplinar são assegurados por lei e norma interna”.