“Um deles passou a perna em mim. Quase caí. Apareceu mais gente. Todos gritavam, apontavam o dedo, ameaçavam. Alguns chutavam minhas pernas. Eram chutes a curta distância, nos calcanhares e nas canelas. Tomaram a minha mochila, abriram. Acharam meu crachá da Sempre Editora. Falei que eu era funcionário do Grupo Sada, de Minas Gerais, mas eles não queriam conversa.”
O relato acima é de um repórter do jornal O Tempo, de Minas Gerais, que cobria a série de atentados dos golpistas ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (9), em Brasília. A publicação divulgou o relato do profissional em primeira pessoa. Chama a atenção a conivência das forças policiais e o preparo técnico dos militantes – muitos deles com máscaras de proteção a gases, usando de coletes e armas.
“Roubaram meu dinheiro, vinte reais. Era só o que eu tinha. Pegaram meu celular. Repetiam a todo montado que eu era ‘petista infiltrado’. Eu respondia que não era, que estava ali a trabalho. Foi então que encostaram uma arma na minha cintura, dizendo que eu ia morrer. Outro encostou em meu ouvido e disse que tinha outra arma nas minhas costas […] Comecei a implorar pela minha vida”, relatou o jornalista.
Leia também
Situação parecida foi relatada pela jornalista Marina Dias, correspondente do jornal norte-americano Washington Post. Pelo Twitter, ela narrou agressões sofridas por ela e por outros colegas durante a cobertura: “Fui cercada, chutada, empurrada, xingada. Quebraram meus óculos, puxaram meu cabelo, tentaram pegar meu celular. É preciso punir essas pessoas. Isso é crime”.
🛑 Minha estreia no @washingtonpost é escancarada na capa. Para mostrar também para o mundo o terrorismo que aconteceu ontem em Brasília. Estas pessoas precisam pagar. pic.twitter.com/oU6vZ093jD
— Marina Dias (@falamarina) January 9, 2023
Publicidade
O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) contabilizou, até o momento, relatos de agressões dos militantes golpistas a, pelo menos, 14 profissionais de imprensa. Os relatos também envolvem roubo de equipamentos, como celulares e máquinas fotográficas. Pelo menos dois profissionais solicitaram ajuda da Polícia Militar do DF e não receberam qualquer apoio. Uma jornalista relatou que um dos policiais chegou a apontar um fuzil para ela, tratamento similar dado ao jornalista de O Tempo.
“Ao chegar nos policiais [após sair do Congresso, que estava sendo destruído e saqueado], pedi ajuda, socorro. Contei o que havia acontecido comigo. Mostrei meus documentos. Perguntei se podia ficar no cercadinho que haviam montado, até chegar um colega de trabalho, de profissão, de qualquer outro veículo, que pudesse me ajudar. Os agentes falaram que não. Responderam que nada podiam fazer por mim”, disse o jornalista de O Tempo após contar a experiência de ter sido ameaçado de morte por militantes e saído por um “corredor polonês” com socos e pontapés.
O Sindicato de Jornalistas do DF chegou a lançar nota se solidarizando com todos e todas profissionais envolvidos na cobertura. Também cobrou das forças de segurança do DF ações efetivas, além de exigir das empresas a adoção de medidas de proteção, reforço das equipes e dos equipamentos de proteção individual (EPI) para que as e os profissionais possam exercer seu trabalho em segurança. Medidas assim são tomadas em casos extremos, como em guerras e conflitos armados.