No mês de setembro, veículos de comunicação e redes sociais trazem à pauta uma reflexão necessária e por vezes tratada de forma superficial, o cuidado com a saúde mental. Iniciada em 2015, Setembro Amarelo é a campanha nacional de prevenção ao suicídio, um movimento antiestigma que pretende conscientizar sobre a importância do diagnóstico e tratamento das doenças mentais para salvar vidas. Cada vez mais as doenças mentais têm se provado uma preocupação universal – não fazem distinção de gênero, raça, idade ou classe social –, apesar disso, é certo que determinados grupos estão submetidos a condições potencializadoras desses distúrbios. É o que acontece com a população LGBT+, cujas experiências são permeadas pela discriminação decorrente de algo indissociável do indivíduo: a sua identidade.
Pessoas LGBT+ vivem um grau de vulnerabilidade intrínseco à sua orientação sexual ou identidade de gênero. A inserção em uma sociedade estruturada sobre padrões hétero-cis-normativos representa viver sob constante estado de ameaça, que vai desde a violação institucional a direitos civis básicos, passando pela exclusão sofrida em diferentes ambientes ao longo de sua formação, até a vitimização por formas cabais de violência, como agressões físicas, verbais e psicológicas. A discriminação, muitas vezes, é reforçada no ambiente familiar, onde o convívio torna-se fonte de repressão e de enfrentamento contínuo, resultando em enorme desgaste psicológico.
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É principalmente nos casos em que o suporte e a afetividade são negligenciados pela família que as redes de apoio tornam-se o principal ponto de acolhimento para indivíduos LGBT+. A importância de espaços de escuta integrado por pessoas que compartilham das mesmas experiências – sejam eles informais, como grupos de amigos, ou institucionalizados, como coletivos e rodas de conversa – é evidenciada pela expressiva deterioração da saúde mental da população LGBT+ durante o isolamento social ocorrido durante a pandemia. Um levantamento realizado pelo coletivo #VoteLGBT em 2021 demonstrou que mais de 55% dos entrevistados apresentou piora na saúde mental em comparação a 2020.
Não bastasse o preconceito que parte da sociedade, outro fator que causa grande impacto na saúde mental do grupo é a internalização das concepções depreciativas. Com experiências de inferiorização que por vezes se iniciam já na infância, pessoas LGBT+ crescem com uma visão distorcida sobre si mesmas, desvalorizando as suas identidades e, frequentemente, convivendo com constantes sentimentos de culpa, vergonha e autodesprezo. Como consequência, a manifestação de doenças mentais como a depressão e ansiedade entre a população LGBT+ supera a média nacional. Pesquisas mostram que a taxa de pensamentos, planejamentos e tentativas de suicídio é de três a seis vezes maior para pessoas LGBT+ do que para pessoas heterossexuais.
Em um momento no qual o foco é discutir a prevenção ao suicídio e os cuidados com a saúde mental, é importante conhecer iniciativas que trabalham com o objetivo de garantir o acesso de minorias a serviços de acompanhamento psicológico. A Clínica Social mantida pelo projeto de acolhimento Casa1 fornece atendimento psicoterápico continuado e atendimento psiquiátrico gratuitamente ou com valores sociais. No mesmo sentido, o Projeto Acolhe LGBT, criado pela ONG All Out, é uma plataforma online que conecta psicólogos a pessoas LGBT+ que precisam de atendimento gratuito.
Ambientes de respeito e acolhimento são um pilar central no enfrentamento das doenças mentais que acometem desproporcionalmente populações estigmatizadas pela sociedade. Estar atento às necessidades daqueles que nos cercam é um dever da cidadania, assim como é dever do Estado atuar ativamente para estruturar iniciativas de enfrentamento ao preconceito e proporcionar espaços de assistência às minorias. Nesse mês de setembro, é importante ressaltar que ninguém precisa estar sozinho, e como anuncia o lema da campanha Setembro Amarelo de 2023: “Se precisar, peça ajuda!”.
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