Rudolfo Lago
Até a semana passada, eles foram os reis da tesoura e das faixas de inauguração. Como brincou o presidente Lula, inaugurou-se até “maquete”. Com a desincompatibilização, termina o momento da pré-campanha em que Dilma Rousseff, do PT, e José Serra, do PSDB, se escondiam nos antigos cargos de ministra da Casa Civil e governador de São Paulo para maquiar suas propagandas eleitorais como atividades de governo. A eleição entra agora numa nova fase.
Pelo calendário eleitoral definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha oficialmente só começa após as convenções partidárias em junho, a propaganda eleitoral só se inicia no dia 6 de julho. Mas, na prática, a partir da quarta-feira passada (31), quando deixaram seus cargos, Dilma e Serra passaram a ser unicamente candidatos. E a mudança redefine suas estratégias de campanha. Seus dois principais adversários na disputa, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e a senadora Marina Silva (PV-AC), podem, conforme a legislação, permanecer nos seus cargos de parlamentares. Mas, forçosamente, a mudança na movimentação dos dois principais nomes na corrida eleitoral acaba por reorientar também suas estratégias.
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As mudanças mais drásticas deverão acontecer na campanha de Serra. E mesmo o comando da campanha de Dilma sabe disso. Até o momento, Serra optou por uma movimentação mais discreta. Como liderava as pesquisas com relativa folga, o ex-governador de São Paulo calculou que poderia evitar uma campanha mais explícita. Assim, evitaria ser alvo de ataques mais fortes dos petistas e preservaria a sua posição.
Em parte, conseguiu atingir seu objetivo: seu patamar de votos, em torno de 35% pouco se alterou. Em contrapartida, Dilma movimentou-se muito para se tornar mais conhecida. De mãos dadas com Lula, saiu pelo Brasil inaugurando obras. O comando de Serra sabia que essa tática de superexposição da ministra lhe traria dividendos. Sabia que ela cresceria e se aproximaria dele. O que nem Serra nem seus auxiliares previam é que ela crescesse tanto. Dilma chegou mais perto de Serra do que ele gostaria. Agora, enquanto ainda tem vantagem, a tática do ex-governador paulista será pisar no acelerador.
Esta semana, a estratégia imaginada ainda é de manter Serra numa postura mais discreta. A virada se dará no sábado, quando haverá em Brasília, no Auditório Brasil 21, o lançamento da sua candidatura à Presidência. O comando da campanha planeja lotar o auditório com 3 mil militantes tucanos de peso, entre governadores, prefeitos, senadores, deputados federais, estaduais e vereadores. Além das principais estrelas dos partidos aliados, DEM e PPS. A partir de então, Serra iniciará uma agenda de encontros nos estados, que ainda não está definida.
“Mantivemos uma presença estável de Serra nas pesquisas, com ele governando São Paulo, sem sair do estado, sem andar pelo Brasil, sem aparecer nas redes de TV”, avalia o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. “Dilma teve uma superexposição, fez campanha ilegal. Era natural que crescesse”, provoca o senador. Para Sérgio Guerra, todo esse esforço de Dilma na pré-campanha devia-se ao fato de ela não ser conhecida. “Eu não conheço ninguém que seja eleitor de Dilma. Conheço eleitores de Lula que vão votar nela”, continua.
Nesse sentido, o presidente do PSDB acha que Dilma já está perto do seu patamar máximo. A última pesquisa CNI/Ibope aponta que 60% dos eleitores já sabem que Dilma é a candidata de Lula. “Não tem mais o fantasma de que Dilma vai crescer quando os eleitores souberem que ela é a candidata do presidente. Os eleitores já sabem disso”.
“Campo imenso”
Não é o que calcula o comando da campanha de Dilma Rousseff. Baseados nos mesmos números das pesquisas, os articuladores da candidatura petista observam que apenas 50% dos que dizem admirar muito o governo Lula já declararam seu voto em Dilma. Lula não é candidato. Serra não tem nem por onde querer agregar sua imagem à do presidente. Assim, calculam, o natural é que o percentual de partidários do governo Lula que resolvam votar em Dilma ainda cresça bastante. Principalmente caso se consiga demover da disputa Ciro Gomes, que seria uma opção governista alternativa.
Os estrategistas de Dilma admitem que os próximos momentos da campanha deverão beneficiar Serra. O lançamento da sua candidatura é um fato importante, e ganhará destaque nos jornais. Dilma aproveitará esse momento para algumas movimentações de bastidores, e para consolidar alianças onde hoje Serra é mais forte, e ela mais frágil.
“A movimentação vai se concentrar no Sul e no Sudeste, por duas razões: é onde Serra tem mais votos e é onde se concentra a maior parte do eleitorado brasileiro”, diz um dos estrategistas da campanha de Dilma. Como ainda não pode fazer comícios e subir em palanques, Dilma fará reuniões com parcelas da sociedade civil organizada: sindicatos, federações, associações, etc. Nas demais regiões, Norte e Nordeste, a ideia é visitar apenas os maiores centros, como Salvador e Recife.
Dentro da tática de tornar a candidata e suas ideias mais conhecidas, Dilma reservará boa parte de seu tempo para entrevistas a jornais, rádios e outros veículos fora do eixo Rio-São Paulo, a chamada imprensa regional que tem influência nos demais centros do país.
Finalmente, fará o que os estrategistas chamam de pagamento de “pedágios” políticos. A presença em eventos importantes dos aliados. Na semana que vem, por exemplo, ela marca ponto nos encontros nacionais do PR, do PRB (partido do vice-presidente José Alencar) e do PCdoB.
Tribos
A exigência de desincompatibilização é apenas para cargos do Poder Executivo. Assim, Ciro Gomes e Marina Silva podem manter seus postos de deputado e senadora até a eleição. Mas, como admite o coordenador da campanha de Marina, o vereador do Rio de Janeiro Alfredo Sirkis, uma intensificação da campanha dos que hoje são ponteiros na disputa orienta as ações dos demais. A partir de abril, Marina estará numa nova série de programas do PV na televisão. Nova oportunidade de aumentar a sua exposição.
De acordo com Sirkis, a campanha de Marina visa fortalecer a sua presença especialmente em três segmentos, que o vereador carioca chama de “tribos”. O que deseja o PV é tentar fazer com que Marina seja a vencedora nesses segmentos para, a partir daí, tentar ampliar sua candidatura junto ao restante do eleitorado. A primeira tribo é a que Sirkis chama de “classe média iluminista”. É a parcela politizada da classe média. Que tem interesse por política. Que acompanha de perto a movimentação eleitoral, se informa pelos jornais e demais veículos de informação. É nessa parcela que se concentra a maior parte do eleitorado de Marina. A estratégia é aumentar ainda mais esse percentual.
A segunda tribo perseguida é a juventude. Os eleitores jovens ainda não estão totalmente integrados à onda eleitoral. Suas fontes de informação são mais difusas: a internet (mas não necessariamente os veículos tradicionalmente ligados à cobertura política) e os amigos. “Chegar nessa turma é um dos nossos grandes desafios”, diz Sirkis.
Finalmente, a terceira tribo são as mulheres e as comunidades cristãs, católicas e evangélicas. “Esse pessoal ainda está longe de ter interesse pela eleição de outubro, na sua maioria. Mas Marina tem uma imensa vantagem sobre esse grupo: ela tem com eles uma comunhão sincera”, avalia Sirkis. “Ao contrário do que acontece com Dilma. As comunidades cristãs não têm nenhuma identificação natural com ela”, conclui o vereador.
Convencer o partido
Se Dilma, Serra e Marina já se encontram à vontade para fazer suas campanha
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